via@Marta Caetetu

quinta-feira, 25 de outubro de 2012

Os Guarani-Kaiowá e a terra de seus ancestrais - morte anunciada

Marta Caetetu - às 14h 08


A morte, anunciada, de um povo
Aqui se trata de suicídio como estudado por Émile Durkheim. Este, definiu três tipos de suicídio.
No caso dos índios Guarani-Kaiowá, parece-me claro que há dois tipos em curso:
O suicídio anômico, tendo a vista a perda dos referenciais culturais em face da ausência do Estado e o suicídio altruísta, posto que o ego dos índios do Brasil é aviltado e usurpado.
Este é o Brasil de quem?

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Carta assinada pelos líderes indígenas da aldeia Guarani-Kaiowá, do Mato Grosso do Sul, e remetida ao Conselho Indigenista Missionário (CIMI)


Carta da comunidade Guarani-Kaiowá de Pyelito Kue/Mbarakay-Iguatemi-MS para o Governo e
Justiça do Brasil
Nós (50 homens, 50 mulheres e 70 crianças) comunidades Guarani-Kaiowá originárias de tekoha
Pyelito kue/Mbrakay, viemos através desta carta apresentar a nossa situação histórica e decisão
definitiva diante de da ordem de despacho expressado pela Justiça Federal de Navirai-MS,
conforme o processo nº 0000032-87.2012.4.03.6006, do dia 29 de setembro de 2012. Recebemos
a informação de que nossa comunidade logo será atacada, violentada e expulsa da margem do rio
pela própria Justiça Federal, de Navirai-MS.
Assim, fica evidente para nós, que a própria ação da Justiça Federal gera e aumenta as violências
contra as nossas vidas, ignorando os nossos direitos de sobreviver à margem do rio Hovy e
próximo de nosso território tradicional Pyelito Kue/Mbarakay. Entendemos claramente que esta
decisão da Justiça Federal de Navirai-MS é parte da ação de genocídio e extermínio histórico ao
povo indígena, nativo e autóctone do Mato Grosso do Sul, isto é, a própria ação da Justiça
Aldeia Guarani - Foto: Egon Shaden, 1949
Federal está violentando e exterminado e as nossas vidas. Queremos deixar evidente ao Governo
e Justiça Federal que por fim, já perdemos a esperança de sobreviver dignamente e sem violência
em nosso território antigo, não acreditamos mais na Justiça brasileira. A quem vamos denunciar as
violências praticadas contra nossas vidas? Para qual Justiça do Brasil? Se a própria Justiça
Federal está gerando e alimentando violências contra nós. Nós já avaliamos a nossa situação
atual e concluímos que vamos morrer todos mesmo em pouco tempo, não temos e nem teremos
perspectiva de vida digna e justa tanto aqui na margem do rio quanto longe daqui. Estamos aqui
acampados a 50 metros do rio Hovy onde já ocorreram quatro mortes, sendo duas por meio de
suicídio e duas em decorrência de espancamento e tortura de pistoleiros das fazendas.
Moramos na margem do rio Hovy há mais de um ano e estamos sem nenhuma assistência,
isolados, cercados de pistoleiros e resistimos até hoje. Comemos comida uma vez por dia.
Passamos tudo isso para recuperar o nosso território antigo Pyleito Kue/Mbarakay. De fato,
sabemos muito bem que no centro desse nosso território antigo estão enterrados vários dos nossos

avôs, avós, bisavôs e bisavós, ali estão os cemitérios de todos nossos antepassados.Cientes
desse fato histórico, nós já vamos e queremos ser mortos e enterrados junto aos nossos
antepassados aqui mesmo onde estamos hoje, por isso, pedimos ao Governo e Justiça Federal
para não decretar a ordem de despejo/expulsão, mas solicitamos para decretar a nossa morte
coletiva e para enterrar nós todos aqui.
Pedimos, de uma vez por todas, para decretar a nossa dizimação e extinção total, além de enviar
vários tratores para cavar um grande buraco para jogar e enterrar os nossos corpos. Esse é
nosso pedido aos juízes federais. Já aguardamos esta decisão da Justiça Federal. Decretem a
nossa morte coletiva Guarani e Kaiowá de Pyelito Kue/Mbarakay e enterrem-nos aqui. Visto que
decidimos integralmente a não sairmos daqui com vida e nem mortos.
Sabemos que não temos mais chance em sobreviver dignamente aqui em nosso território antigo,
já sofremos muito e estamos todos massacrados e morrendo em ritmo acelerado. Sabemos que
seremos expulsos daqui da margem do rio pela Justiça, porém não vamos sair da margem do rio.
Como um povo nativo e indígena histórico, decidimos meramente em sermos mortos coletivamente
aqui. Não temos outra opção esta é a nossa última decisão unânime diante do despacho da
Justiça Federal de Navirai-MS.

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26/10/2012
Liminar mantém os 170 índios nas terras da fazenda, por eles ocupadas.

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