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quinta-feira, 11 de outubro de 2012

Minutos na História: A Revanche Soviética com os Mísseis em Cuba

Marta Caetetu - às 09h 50

Há 50 anos os Estados Unidos e a [antiga] União Soviética protagonizaram 13 dias de agonia para o mundo, durante a Guerra Fria (1947-1991). E no "meio do caminho" estava Cuba.

 Nos Estados Unidos, analistas verificam dados das imagens da localização dos mísseis.

Os empresários da Indústria Bélica comemoravam
Vista aérea da localização dos mísseis em Cuba

Os soviéticos planejaram para dar o troco aos Estados Unidos, por causa das bases de mísseis estadunidenses na Grã-Bretanha,  Itália e, fundamentalmente, instaladas na Turquia

De 16 a 28 de outubro de 1962 o mundo viveu a tensão dessa crise
Localização da base dos mísseis em Cuba
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O Brasil também estava no "meio do caminho"
Os Presidentes dos Estados Unidos e Brasil mantiveram contato (pessoal e por escrito), a fim de definir a posição deste último, especialmente, em relação a Cuba. Em abril de 1962, o Presidente João Goulart visitou os Estados Unidos, o que leva a crer que as negociações começaram bem antes do anúncio da crise.
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A carta de Kennedy


“Meu caro senhor Presidente. Encaramos a necessidade e
a oportunidade neste hemisfério de determinar, pela nossa
ação conjunta nos próximos dias, o que pode ser todo o futuro da humanidade sobre esta terra. Vossa Excelência terá a oportunidade de constatar pela minha declaração ao povo norte-americano a natureza da grave ameaça ao hemisfério Ocidental que o regime atual em Cuba permitiu à URSS estabelecer em território cubano. Porém, não se trata somente de ameaça militar aos EUA. Este comportamento da URSS, apesar dos nossos bem conhecidos e sempre reiterados acordos de defesa e segurança do hemisfério, não leva em conta, pela sua continuidade, minha advertência de 4 de setembro, bem conhecida por eles; os repetidos desmentidos soviéticos, seja em declarações políticas ou em conversações privadas, de que tal ação fosse empreendida ou mesmo estava sendo contemplada, tornam perfeitamente evidente que os soviéticos estão lançando um desafio ousado e belicoso a todos os povos livres. Devemos responder a esta ação arrogante com uma determinação unida. Senão a URSS encaminhar-se-á a violações sempre mais flagrantes das exigências da paz internacional e da liberdade e até chegaremos ao momento em que não teremos outra escolha senão a maldição completa ou o desencadear de u holocausto nuclear. Devemos tomar posição hoje; o mundo inteiro está nos olhando. Assuntos sobre os quais nós, no hemisfério, possamos ter desacertos marginais como também divergências políticas entre os nossos povos tornam-se insignificantes diante dessa ameaça à paz. Espero que, nestas circunstâncias, Vossa Excelência sentirá que o seu país deseja unir-se ao nosso, expressando os seus sentimentos ultrajados frente a este comportamento cubano e soviético, e que V. Excia achará por bem expressar publicamente os sentimentos do seu povo. Espero também que V.Excia, haverá de concordar comigo na necessidade urgente de convocar uma reunião imediata do Órgão de Consulta do Sistema Interamericano sob o Pacto do Rio de Janeiro. Os EUA proporão àquele órgão, uma vez reunido, a adoção de uma resolução, para
tratar eficazmente desta nova e perigosa situação.



O meu embaixador poderá lhe fornecer o
texto proposto. É claro que a colocação de armas ofensivas com capacidade nuclear em Cuba coloca em perigo a paz e a segurança do Continente nos termos do artigo 6 daquele Pacto. Estou certo de Vossa     Excelência concorda com a urgência de tal resolução. Estou também pedindo uma reunião
urgente do Conselho de Segurança das Nações Unidas. Dei instruções ao embaixador
Stevenson para apresentar em nome dos Estados Unidos uma resolução que peça a retirada
das bases dos foguetes e outras armas ofensivas em Cuba sob a supervisão de observadores
das Nações Unidas. Eu espero que Vossa Excelência dê instruções ao seu representante em
Nova York para trabalhar ativamente conosco e falar diretamente em apoio ao programa da
Organização das Nações Unidas. Quero convidar Vossa Excelência para que as suas autoridades militares possam conversar com os meus militares sobre a possibilidade de participação em alguma base apropriada com os EUA e outras forças do hemisfério em qualquer ação militar que se torne necessária pelo
desenvolvimento da situação em Cuba. Tenho confiança de que, por intermédio de uma
aproximação comum a esta ameaça, por meio de medidas sábias, que combinem a firmeza e a
limitação necessária da crise, haveremos de marchar a um novo marco do progresso para o
mundo livre com reduzido receio de dominação do mundo pelo comunismo internacional. Neste
termo, após indicar os perigos à paz mundial do rumo que a URSS tem seguido em Cuba, escrevi
ao senhor Kruchev pedindo-lhe que sejam adotadas medidas que haverão de nos permitir
retornar o caminho de negociações pacíficas.

John Kennedy”


A carta de João Goulart


“Recebi com apreço e meditei com atenção a carta em que V. Excelência houve por bem
comunicar-me ter sido constatada a presença, em território cubano, de armas ofensivas
capazes de constituírem ameaça aos países deste hemisfério. Nessa carta, Vossa Excelência
também solicitou o apoio do Brasil para as medidas que o seu governo proporia ao conselho da
Jango em visita aos Estados Unidos, abril de 1962
OEA e ao Conselho de Segurança das Nações Unidas, com fundamento nas disposições do Tratado do Rio de Janeiro e da Carta de São Francisco.


Já é de seu conhecimento o pronunciamento, no
primeiro desses Conselhos, do delegado do Brasil.
Quero, entretanto, aproveitar o ensejo para fazer
a Vossa Excelência, com a franqueza e
sinceridade a que não apenas me autorizam, mas
me obrigam o meu apreço pessoal por Vossa
Excelência e a tradicional amizade entre os nossos povos, algumas considerações. tanto sobre a posição brasileira em face do caso de Cuba, como sobre os rumos que recentemente vêm prevalecendo nas decisões da OEA. Vossa Excelência conhece a fidelidade inalterável do Brasil aos princípios democráticos e aos ideais da civilização ocidental. Dentro dessa fidelidade, os nossos países já combateram lado a lado em duas guerras mundiais, que nos custaram o sacrifício de inúmeras vidas e nos impuseram, proporcionalmente e de modo diverso, pesados prejuízos materiais. Os sentimentos democráticos do povo brasileiro e do seu governo são hoje, porventura, maiores e mais arraigados do que no passado, porque com o volver dos anos e a aceleração do desenvolvimento econômico, fortaleceram-se e estabilizaram-se as nossas instituições políticas, sob o princípio da supremacia da lei. Era natural que paralelamente ao fortalecimento da democracia se desenvolvesse o sentido de responsabilidade internacional. levando-nos a participar de acontecimentos e problemas não apenas regionais, mas mundiais, para nos situarmos em face deles à luz dos nossos interesses nacionais e dos ditames de nossa opinião pública. No discurso que tive a honra de pronunciar perante o Congresso norte-americano em 4 de abril de 1962, procurei resumir e enunciar com clareza os aspectos dominantes da nossa posição nos seguintes termos: A ação internacional do Brasil não responde a outro objetivo senão o de favorecer, por todos os meios ao nosso alcance, a preservação e fortalecimento da paz. Acreditamos que o conflito ideológico entre Ocidente e Oriente não poderá e não deverá ser resolvido militarmente, pois de uma guerra nuclear, se salvássemos a nossa vida, não
lograríamos salvar, quer vencêssemos, quer fôssemos vencidos, a nossa razão de viver. O fim da perigosa emulação armamentista tem de ser encontrado através da convivência e da negociação. O Brasil entende que a convivência entre o mundo democrático e o mundo socialista poderá ser benéfica ao conhecimento e à integração das experiências comuns, e temos a esperança de que esses contatos evidenciem que a democracia representativa é a mais perfeita das formas de governo e a mais compatível com a proteção ao
homem e a preservação de sua liberdade.
A defesa do principio da autodeterminação dos povos, em sua máxima amplitude, tornou-se o
ponto crucial da política externa do Brasil, não apenas por motivos de ordem jurídica, mas por
nele vermos o requisito indispensável à preservação da independência e das condições próprias
sob as quais se processa a evolução de cada povo. É pois, compreensível que desagrade
profundamente à consciência do povo brasileiro qualquer forma de intervenção num estado
americano inspirada na alegação de incompatibilidade com seu regime político, para lhe impor a
prática do sistema representativo por meios coercitivos externos, que lhe tiram o cunho
democrático e validade. Por isso o Brasil na VIII Consulta de chanceleres Americanos se opôs à
imposição de sanções ao regime cubano, tanto mais que não eram apontados então, como só
agora veio a suceder, fatos concretos em que se pudesse prefigurar a eventualidade de um
ataque armado.
Ainda agora, entretanto, Sr. Presidente, não escondo a V. Excelência a minha apreensão e
insatisfação do povo brasileiro pelo modo como foi pleiteada e alcançada a decisão do Conselho
da OEA, sem que tivesse preliminarmente realizado, ou pelo menos deliberado, uma investigação
in loco, e sem que se tivesse tentado através de uma negociação, como a que propusemos em
fevereiro do corrente ano, o desarmamento de Cuba com a garantia recíproca de não invasão.
Receio que nos tenhamos abeirado sem, antes,
esgotar todos os recursos para evitá-lo, de um risco
que o povo brasileiro teme tanto como o norteamericano,
o da guerra nuclear. E é na atuação de V.
Excelência, no seu espírito declaradamente pacifista,
que depositamos nosso esperança de que não sejam
usadas contra Cuba medidas militares capazes de
agravar o risco já desmedido da presente situação.
Para tudo que possa significar esforço de
preservação da paz, sem quebra do respeito à
soberania dos povos, pode Vossa Excelência contar
com a colaboração sincera do governo e do povo do
Brasil.
Não quero encerrar, porém, esta carta, Senhor
Presidente, sem acrescentar às considerações nela
feitas a expressão de meus receios sobre o futuro imediato da OEA. Nos últimos tempos
observo que as suas decisões vêm perdendo autoridade à medida que se afastam da correta
aplicação das suas próprias normas estatutárias, e que são tomadas por maioria numérica com
injustificável precipitação. A isso cabe acrescentar a tendência para transformar a Organização
num bloco ideológico intransigente, em que, entr etanto, encontram o tratamento mais benigno os
regimes de exceção de caráter reacionário.
Permito-me pedir a atenção de Vossa Excelência para a violação do art.22 da Carta de Bogotá,
que se está correndo o risco de cometer para evitar a adesão de novos estados por motivo de
ordem ideológica. Permito-me ainda recordar a aplicação imprópria da Resolução H de Punta Del
Este sobre a vigilância e defesa social, que não autoriza a Organização a encomendar
investigações sobre a situação interna de nenhum país, para evitar que firam melindres de
Estados soberanos, e que agora se pretende abusivamente invocar justamente para a execução
de uma investigação dessa natureza. A esses casos acrescento o da criação do Colégio
Interamericano de Defesa. Este órgão não pode merecer senão a nossa simpatia e cooperação,
desde que se limite a apreciar problemas técnicos e de segurança externa,mas seus efeitos
podem ser negativos se a título de problemas de segurança interna passar ele a estudar
questões de competência privativa dos Estados sobre os quais convém que os militares
recebam uma formação e uma orientação puramente nacionais.
Estou certo de que Vossa Excelência compreenderá as razões de minha apreensão. O Brasil é
um país democrático em que o povo e o governo repelem o comunismo internacional, mas onde
se fazem sentir ainda perigosas pressões reacionárias, que procuram sob o disfarce do
anticomunismo defender posições sociais e privilégios econômicos, contrariando desse modo o
próprio processo democrático de nossa evolução. Acredito que o mesmo se passa em outros
países latino-americanos. E nada seria mais perigoso do que ver-se a OEA ser transformada em
sua índole e no papel que até aqui desempenhou, para passar a servir a fins ao mesmo tempo
anticomunistas e antidemocráticos, divorciando-se da opinião pública latino-americana. Veja
Vossa Excelência, senhor Presidente, nestas considerações, que pretendia desenvolver
pessoalmente, ao grato ensejo de sua visita ao Brasil, uma expressão do propósito de melhor
esclarecimento sobre as aspirações e as diretrizes do povo brasileiro.
Renovo a Vossa Excelência a certeza da minha melhor estima e apreço.

João Goulart.”

Fonte: políticaparapolíticos



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