via@Marta Caetetu

quarta-feira, 31 de outubro de 2012

As Décadas de Vargas na Questão Habitacional

Marta Caetetu - às 21h 43

1942 - Construção do IAPI  de Realengo,
no Rio de Janeiro
O Instituto de Aposentadoria e Pensão dos Industriários (IAPI) foi o grande financiador de construções habitacionais sociais do período aqui analisado por Nabil Bonduki.






Origens da habitação social no Brasil 

Nabil Georges Bonduki* Análise Social, vol. xxix (127), 1994 (3.°), 711-732

O objetivo deste paper é analisar as origens da intervenção estatal na questão da habitação de interesse social no Brasil, com destaque para o período de Vargas (1930-1954). Ainda serão destacadas as repercussões desta intervenção no quadro de soluções de moradia e de acesso à terra em São Paulo. 

Trata-se do momento em que o Estado brasileiro passa a intervir tanto no processo de produção como no mercado de aluguel, abandonando a postura de deixar a questão da construção, comercialização, financiamento e locação habitacional às «livres forças do mercado», que vigorou até então. Esta nova postura do Estado brasileiro na questão da habitação é parte integrante da estratégia muito mais ampla, colocada em prática pelo governo Vargas, de impulsionar a formação e fortalecimento de uma sociedade de cunho urbano-industrial, capitalista, mediante uma forte intervenção estatal em todos os âmbitos da atividade econômica (Oliveira, 1971). 

Entre as medidas mais importantes implementadas pelo governo no que diz respeito à questão habitacional, estiveram o decreto-lei do inquilinato, em 1942, que, congelando os aluguéis, passou a regulamentar as relações entre locadores e inquilinos, a criação das carteiras prediais dos Institutos de Aposentadoria e Previdência e da Fundação da Casa Popular, que deram início à produção estatal de moradias subsidiadas e, em parte, viabilizaram o financiamento da promoção imobiliária, e o Decreto-Lei n.° 58, que regulamentou a venda de lotes urbanos a prestações. 

"Desmundo" - Um lugar onde não se poderia viver

Marta Caetetu - à 0h 20

Mulheres da Metrópole à mercê do Desmundo
Com roteiro de Alain Fresnot (Diretor), Sabrina Anzuategui e Anna Muylaert., "Desmundo" (2003) é o filme que, após "Carlota Joaquina, Princesa do Brasil" (1995), representa com maior rigor (e vigor) parte da história do Brasil. 
É uma adaptação do livro homônimo de Ana Miranda, que centra sua narrativa no papel da mulher durante o período colonial, mostrando-o através de suas não escolhas, não opções, não amores...
A linguagem chama a atenção por reproduzir o português arcaico, que nos conduz ao "mundo" das últimas décadas do século XVI. 
"Desmundo" é um filme brasileiro pouco publicizado para a grandeza que esta obra filmográfica representa. Afinal, não é toda hora que nos deparamos com produções bem elaboradas e que acrescentam aspectos positivos à indústria cinematográfica.
Logo no início, vê-se uma embarcação e a imagem da câmera fechada em uma das mulheres que são obrigadas a cruzar o Atlântico rumo ao destino traçado politicamente. Era necessário, à época evitar que os colonos portugueses tivessem filhos com as nativas. Plano que sabemos, hoje, não ter obtido tanto sucesso.
As mulheres escolhidas eram órfãs, o que, por si só, já as tornava um estorvo social. À mulher, cabia ser "propriedade" de alguém. No caso da orfandade em tempos Coloniais, a prerrogativa passava à Igreja e à Coroa.

Algumas imagens do filme








O filme


segunda-feira, 29 de outubro de 2012

No Dia do Livro, o homenageado é...Jorge Amado

Marta Caetetu - às 22h52
As dez melhores adaptações de obras de Jorge Amado, para a TV, Palco e/ou Cinema

Jorge Amado faria 100 anos em 10 de agosto último.  Seus livros foram editados em 55 países e adaptados para o cinema, o teatro e a televisão. Ainda inspiraram novas histórias e continuarão a inspirar.
Portanto, uma brevíssima homenagem ao Senhor das "Bahias" e de muitos deuses, nesse Dia do Livro, através da minha lente.
            Título                                                         Ano de publicação da obra
 1º - Mar Morto ....................................................................(1936)
 2º - Capitães da Areia......................................................... (1937)
 3º - Gabriela, Cravo e Canela..............................................(1958)
 4º - A Morte e a Morte de Quincas Berro D'Água ..................(1959)
 5º - Dona Flor e seus dois maridos.......................................(1966)
 6º - Tenda dos Milagres .......................................................(1969)
 7º - Tenda dos Milagres ......................................................(1969)
 8º - Teresa Batista Cansada de Guerra ................................(1972)
 9º - Tieta do Agreste ............................................................(1977)
!0 - Tocaia Grande ................................................................(1984)

"Elefante" - Bastava prestar atenção

Marta Caetetu - às 20h 32
Produção Mental frente ao Individualismo e à Segregação
Para além de qualquer distúrbio, "Elefante" (2003) nos mostra como não somos atentos ao que está à nossa volta.
Ganhador da Palma de Ouro, em Cannes, o filme foi inspirado no Massacre de Columbine, ocorrido em 20 de abril de 1999, no Instituto Columbine, localizado no Condado de Jefferson, Colorado, Estados Unidos. Lá, os estudantes Eric (18 anos) e Dylan (17 anos) atiraram em diversos colegas e Professores.
No filme Elefante, dois jovens agem como o acontecido em Columbine.
O título, segundo o roteirista e diretor Gus Van Sant, remete à parábola hindu dos cegos diante de um elefante; cada um toca parte do animal e diz saber o que é, sem, contudo, perceber o todo. 
Para Gus, as várias personagens que, aparentemente, não se encaixam, fazem parte do mosaico vivido e odiado pelos meninos.



Luís António Verney - Um intelectual que ousou contrariar o Marquês de Pombal

Marta Caetetu - às 09h 47

Verdadeiro método de estudar: para ser util à Republica, e à Igreja: proporcionado ao estilo, e necesidade de Portugal., Valensa [Nápoles], 1746 - Biblioteca Nacional Digital

Um opositor às ideias do Marquês de Pombal
Luís António Verney (1713-1792)

Verney foi um crítico contumaz dos métodos de ensino tradicionais e do seu excesso de teoria. De acordo com suas proposições o ensino deveria basear-se nas realidade concretas e experiências; o ensino elementar deveria ministrado para ambos os sexos; caberia ao Estado à iniciativa e o custeio do sistema educacional.
Desse modo, rapidamente, conflagrou contra si o descontentamento de muitos poderosos da época, fundamentalmente, do Marquês de Pombal. Como consequência, refugiou-se em Roma, lugar onde viveu até o fim de sua vida.

"Missing" - Uma forma de denunciar a Ditadura de Pinochet, no Chile

Marta Caetetu - às 02h 21
Quando o Cinema é porta-voz dos que são obrigados a calar
Os comentários acerca do filme, são do crítico Marcelo Janot.




O filme



"Memória e Cidade" - Imigração Espanhola em Niterói, por Eduardo Ângelo da Silva

Marta Caetetu - à 01h 13
Valonguinho - 1940


Memória da Imigração Espanhola em Niterói
Eduardo Ângelo da Silva -UFF

Este trabalho se integra à linha de pesquisa “Memória e Cidade” do Laboratório de História 
Oral e Imagem (LABHOI) da Universidade Federal Fluminense, a qual engloba estudos sobre a cultura urbana e lugares de memória abarcando a discussão sobre identidades sociais e o patrimônio cultural na cidade. Esta linha de pesquisa tem como destaque de suas investigações os estudos sobre a história da imigração no século XX, voltando-se, principalmente, para as investigações sobre as comunidades de imigrantes do Estado do Rio de Janeiro. 

Uma vez que ainda são escassos os estudos sobre imigração que recortam como espaço de pesquisa a cidade do Rio de Janeiro e suas imediações1, o presente trabalho, que teve como objetivo o resgate da memória da imigração espanhola em Niterói, contribui para a constituição e desenvolvimento dos estudos relativos aos processos de imigração pós-Segunda Guerra Mundial que tiveram como destino centros urbanos. 
(...)

‘Usos do Passado’ — XII Encontro Regional de História ANPUH-RJ 2006: 

Agora que o estudo já foi situado dentro de um esforço maior de pesquisas sobre imigração, torna-se relevante apontar mesmo que de forma simplificada as etapas que o constituíram. 

Após definirmos os objetivos do trabalho, iniciamos a pesquisa histórica e o contato com a comunidade espanhola de Niterói através do Clube Espanhol de Niterói (CEN). 

Percebemos então que a maioria dos imigrantes fazia parte do fluxo imigratório espanhol para a América ocorrido a partir de 1945 até os anos 1960 e que a comunidade espanhola desta cidade é marcada pela presença galega. Estes fatos se explicam pela pesquisa realizada sobre o contexto histórico em questão. 

domingo, 28 de outubro de 2012

A recuperação de Malala e as sábias palavras do seu pai

Marta caetetu - às 22h 25
Uma "estrelinha" volta a brilhar
Malala Yousufzai recupera-se, aos poucos, mas já se comunica por meio de escrita breve. Com o auxílio dos médicos, conseguiu levantar, ficar de pé, o que foi interrompido com o atentado.
As palavras do seu pai precisam reverberar em todas as mentes e corações:

"Quando ela caiu, o Paquistão se levantou e o mundo também. Este foi o ponto de virada."

O Aniversário de Iolanda - O Balneário da Urca e dois Casamentos

RJ, 27/10/2012
O Aniversário de Iolanda
Autora: Marta Caetetu

(...)


Parte VI
Anos Dourados na Capital Federal
Em 1949, Felipe, Beatriz, Maria Antônia; já com quinze anos, Francisco; com dezessete, Bernadette e a filha Íris, que, à época, contava dezoito anos de idade, chegaram à Cidade De São Sebastião do Rio de Janeiro, capital dos antigo Estado da Guanabara e  a capital do país,  à época, após viagem de trem até o desembarque na Central do Brasil, no Centro da Cidade.
Nesse momento, as grandes cidades brasileiras ainda passavam pelo processo de transição do transporte ferroviário para o rodoviário, iniciado na década de 20.  Além disso, o país necessitava da construção de muitos quilômetros de estradas. 
Os bondes elétricos eram a principal opção, à época, para a população mais pobre, porque era mais barato que os [poucos] ônibus. E apenas um grupo muito reduzido, tinha condição financeira para adquirir  um automóvel. 
A "família" que chegava ao Rio de Janeiro, antes providenciara,  quando da contratação do transporte da mudança, o transporte de navio para seu automóvel. Francisco deixou a família na confeitaria Colombo e dirigiu-se à Praça Mauá para efetuar a retirada do veículo, um Ford conversível, 1946. Fora um presente de Lucien ao casal.
Da Confeitaria, foram para a nova residência - uma casarão no balneário da Urca, próximo ao Cassino (desativado, desde 1946, quando o então Presidente da República, Eurico Gaspar Dutra, proibiu os jogos no país). Como o imóvel, agora, pertencia ao casal e aos meninos, tendo em vista parte da herança deixada por Lucien, não havia razão que os levassem para outro rumo. 

Em 1951, Felipe e Beatriz organizaram uma bela festa pela formatura de  Íris. A partir de então, ela dedicou-se a algumas especializações, particularmente, as relativas ao campo da geriatria.

Maria Antônia e Francisco, que namoravam, meio secretamente,  desde 1948, por meio de olhares e atenção mais dedicada, como o costume, conversaram com Beatriz e Felipe.

__ Meu interesse por Maria Antônia é sincero e já faz algum tempo. E como sei que ela também se interessa por mim, peço que permitam nosso noivado.

__ Vocês pensam que nós nunca percebemos?

Perguntou Beatriz, sorrindo.

Felipe deu um forte abraço nos dois, abençoando Francisco com todo o amor que ele pôde lhe dar.
Em 1952, Íris se casou com Nicolas, um médico, seu amigo dos tempos do curso de Medicina.
Em 1953, foi a vez de Maria Antônia subir ao altar para o casamento com Francisco.

(...)




sexta-feira, 26 de outubro de 2012

Entre o Sagrado e o Abandono, "Orações para Bobby"

Marta caetetu - às 23h 33

Entre o Sagrado e o abandono
Orações para Bobby

O filme (2009), baseado em fatos reais, mostra o abandono emocional vivido pela personagem central,  Bobby (interpretado por Ryan Kelley), em função da sua orientação sexual - por volta dos dezesseis anos, após tentativas de relacionamentos héteros, Bobby revela sua homossexualidade à família. 


Bobby Griffith
A mãe é a que mais sofre com a revelação e tenta "curar" o filho, por meio de leituras e lembretes Bíblicos espalhados por diversos cômodos da casa; para ela, o homossexualismo não é divino; é profano. Portanto, Bobby precisa livrar de tais pensamentos e sentimentos, a fim de não padecer no fogo do inferno.

Bobby Griffith
A atriz Sigourney Weaver encarna, magistralmente, a mulher que, no primeiro momento,  não pensa a Bíblia, apenas repete o que está escrito. Após muitas discussões e buscas, ela se transforma na mãe dilacerada pela dor da perda do filho e, diante da ignorância vivida, assume o papel de mulher que divulga o abandono emocional dos homossexuais, em geral.

É, sem dúvida, uma belíssima adaptação do livro homônimo, de Leroy F. Aarons






quinta-feira, 25 de outubro de 2012

FILOSOFIA

Marta Caetetu - às 21h 58


O Mito do Amor

(fragmento do livro O Banquete, de Platão)


        Quando a deusa Afrodite nasceu, houve uma grande festa para os deuses, mas esqueceu-se de convidar a deusa Penúria (Pênia). Miserável e faminta, Penúria esperou o final da festa, esgueirou-se pelos jardins e comeu os restos, enquanto os demais deuses dormiam. Num canto do jardim, viu Engenho Astuto (Poros) e desejou conceber um filho dele, deitando-se ao seu lado. Desse ato sexual nasceu Eros, o amor. Como sua mãe, Eros está sempre carente, faminto, miserável; como seu pai, Eros é astuto, sabe criar expedientes engenhosos para conseguir o que quer.
                                                              (CHAUÍ, Marilena. Convite à Filosofia. p.216)


SOCIOLOGIA

Marta Caetetu - às 21h 53


A Sociologia de Guerreiro Ramos



Painel sobre a "Contribuição de Guerreiro Ramos para a Sociologia Brasileira", in Revista de Administração Pública (Rio de Janeiro)) 17, 2 abril-junho, 30-34, 1983.
Simon Schwartzman

Gostaria de fazer alguns comentários sobre como era a sociologia no Brasil que Guerreiro Ramos criticava, e qual era o tipo de sociologia que ele pretendia desenvolver. Isto nos permitirá pensar um pouco em como avaliar, com os olhos de hoje, sua contribuição.

Temos que lembrar que, na época em que Guerreiro Ramos viveu e trabalhou no Brasil, a sociologia praticamente só existia, como atividade acadêmica institucionalizada, na Universidade de São Paulo. Somente na USP era possível fazer do trabalho sociológico uma carreira, com reconhecimento social e perspectivas de crescimento. Fora isto, e com algumas poucas exceções, o que havia no país eram "pensadores" e escritores isolados, alguns de grande talento, que buscavam estabelecer uma ponte entre a atividade intelectual e a atividade política. Guerreiro Ramos, pelo menos em sua intenção, representava bem esta extirpe de escritores, combinando grande erudição e brilho intelectual com uma preocupação constante em participar e influir na vida política.



Charges, Imagens, Tirinhas...



Stacy Sycora declara sua felicidade

Marta Caetetu às 19h 20


Seres humanos adoram rótulos   
Nós estamos o tempo todo rotulando, nos esquecendo que tal atitude é uma avenida de mão dupla.
A jogadora de vôlei, Stacy, atualmente jogando na Itália, teve que se impor um rótulo para que pudesse expressar sua vida, sua felicidade. Convocou jornalistas para se declarar homossexual e que tem uma namorada.
Somos tão esquizofrênicos, que precisamos satisfazer os outros para que possamos existir. 
Ela fez o que julga ser o melhor, a fim de que os outros (que somos nós) parem de especular a respeito da sua vida amorosa. Se ela fez bem, não cabe a mim qualquer manifestação. Rótulos são sempre perigosos e geram (e geraram) tragédias históricas. Penso no jogo da Stacy de igual modo - ela é uma líbero que não dá sossego à Fabi. 
A orientação sexual dela, não é da minha competência, nem interfere na forma como admiro a profissional que ela é.
Deixemos os outros viverem e cuidemos de viver. Só isso, já está de bom tamanho.

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Beijo "interrompe" manifestação contra casamento homossexual, em Marselha, França
22/10/2012

Os Guarani-Kaiowá e a terra de seus ancestrais - morte anunciada

Marta Caetetu - às 14h 08


A morte, anunciada, de um povo
Aqui se trata de suicídio como estudado por Émile Durkheim. Este, definiu três tipos de suicídio.
No caso dos índios Guarani-Kaiowá, parece-me claro que há dois tipos em curso:
O suicídio anômico, tendo a vista a perda dos referenciais culturais em face da ausência do Estado e o suicídio altruísta, posto que o ego dos índios do Brasil é aviltado e usurpado.
Este é o Brasil de quem?

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Carta assinada pelos líderes indígenas da aldeia Guarani-Kaiowá, do Mato Grosso do Sul, e remetida ao Conselho Indigenista Missionário (CIMI)


Carta da comunidade Guarani-Kaiowá de Pyelito Kue/Mbarakay-Iguatemi-MS para o Governo e
Justiça do Brasil
Nós (50 homens, 50 mulheres e 70 crianças) comunidades Guarani-Kaiowá originárias de tekoha
Pyelito kue/Mbrakay, viemos através desta carta apresentar a nossa situação histórica e decisão
definitiva diante de da ordem de despacho expressado pela Justiça Federal de Navirai-MS,
conforme o processo nº 0000032-87.2012.4.03.6006, do dia 29 de setembro de 2012. Recebemos
a informação de que nossa comunidade logo será atacada, violentada e expulsa da margem do rio
pela própria Justiça Federal, de Navirai-MS.
Assim, fica evidente para nós, que a própria ação da Justiça Federal gera e aumenta as violências
contra as nossas vidas, ignorando os nossos direitos de sobreviver à margem do rio Hovy e
próximo de nosso território tradicional Pyelito Kue/Mbarakay. Entendemos claramente que esta
decisão da Justiça Federal de Navirai-MS é parte da ação de genocídio e extermínio histórico ao
povo indígena, nativo e autóctone do Mato Grosso do Sul, isto é, a própria ação da Justiça
Aldeia Guarani - Foto: Egon Shaden, 1949
Federal está violentando e exterminado e as nossas vidas. Queremos deixar evidente ao Governo
e Justiça Federal que por fim, já perdemos a esperança de sobreviver dignamente e sem violência
em nosso território antigo, não acreditamos mais na Justiça brasileira. A quem vamos denunciar as
violências praticadas contra nossas vidas? Para qual Justiça do Brasil? Se a própria Justiça
Federal está gerando e alimentando violências contra nós. Nós já avaliamos a nossa situação
atual e concluímos que vamos morrer todos mesmo em pouco tempo, não temos e nem teremos
perspectiva de vida digna e justa tanto aqui na margem do rio quanto longe daqui. Estamos aqui
acampados a 50 metros do rio Hovy onde já ocorreram quatro mortes, sendo duas por meio de
suicídio e duas em decorrência de espancamento e tortura de pistoleiros das fazendas.
Moramos na margem do rio Hovy há mais de um ano e estamos sem nenhuma assistência,
isolados, cercados de pistoleiros e resistimos até hoje. Comemos comida uma vez por dia.
Passamos tudo isso para recuperar o nosso território antigo Pyleito Kue/Mbarakay. De fato,
sabemos muito bem que no centro desse nosso território antigo estão enterrados vários dos nossos

avôs, avós, bisavôs e bisavós, ali estão os cemitérios de todos nossos antepassados.Cientes
desse fato histórico, nós já vamos e queremos ser mortos e enterrados junto aos nossos
antepassados aqui mesmo onde estamos hoje, por isso, pedimos ao Governo e Justiça Federal
para não decretar a ordem de despejo/expulsão, mas solicitamos para decretar a nossa morte
coletiva e para enterrar nós todos aqui.
Pedimos, de uma vez por todas, para decretar a nossa dizimação e extinção total, além de enviar
vários tratores para cavar um grande buraco para jogar e enterrar os nossos corpos. Esse é
nosso pedido aos juízes federais. Já aguardamos esta decisão da Justiça Federal. Decretem a
nossa morte coletiva Guarani e Kaiowá de Pyelito Kue/Mbarakay e enterrem-nos aqui. Visto que
decidimos integralmente a não sairmos daqui com vida e nem mortos.
Sabemos que não temos mais chance em sobreviver dignamente aqui em nosso território antigo,
já sofremos muito e estamos todos massacrados e morrendo em ritmo acelerado. Sabemos que
seremos expulsos daqui da margem do rio pela Justiça, porém não vamos sair da margem do rio.
Como um povo nativo e indígena histórico, decidimos meramente em sermos mortos coletivamente
aqui. Não temos outra opção esta é a nossa última decisão unânime diante do despacho da
Justiça Federal de Navirai-MS.

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26/10/2012
Liminar mantém os 170 índios nas terras da fazenda, por eles ocupadas.

quarta-feira, 24 de outubro de 2012

"Violeta foi para o céu" - Cinebiografia sobre Violeta Parra

Marta Caetetu - à 01h 47
O filme do diretor chileno Andrés Wood, com roteiro de Eliseo Altunaga, foi produzido com a colaboração de Angel Parra, filho de Violeta, apesar de contar com a discordância de parte da família. Eles utilizaram o mesmo recurso do filme "Chico Xavier"; uma entrevista foi o fio condutor.
Angel é autor do romance, no qual o filme é baseado, além de ser utilizado para nomear a produção.
A atriz Francisca Gavilán, que interpreta Violeta, além de fazê-lo como poucas, é de semelhança física espantosa. Sua atuação me fez lembrar da atriz Marion Cottilard, que  interpretou, de forma emocionante, a grande cantora  francesa Edith Piaff, no filme La Môme (Piaff - Um Hino ao Amor/2007).

                     Violeta se fue a los Cielos - 2011




terça-feira, 23 de outubro de 2012

Violeta Parra - A tristeza no olhar e a poesia na alma

Marta Caetetu - às 23h 43

O canto exilado pela Ditadura
A trajetória da compositora, artista plástica, folclorista, poetisa genial e cantora chilena Violeta del Carmen Parra Sandoval foi símbolo da cultura latino-americana, nos anos 60 e voz para a luta dos oprimidos  e injustiçados.

Suas pesquisas, bem como sua música foram fundamentais, paralelamente ao trabalho de   Victor Jara, para a chamada Nova Canção Chilena.


Isabel Parra - filha
Durante o período de Ditadura Militar em seu país (1973-1990), sob o comando do General Augusto Pinochet, as canções de Violeta Parra, que havia se suicidado em 1967, aos 49 anos, foram "esquecidas".
Seus filhos foram perseguidos e o amigo Victor Jara, foi preso, torturado e assassinado.
Angel Parra - filho
Violeta com a filha,
Carmen Luisa
Violeta com os filhos e a neta
Cristina Isabel Parra Careceda,
a Tita Parra - neta de Violeta, filha de Isabel

                                Documentário: Viola Chilensis (2003) - Luis R. Vera.


Carlos Marighella - Primeiro, um homem a serviço da Política

Marta Caetetu - às 19h 57

Uma vida, quase franciscana
Carlos Marighella, mais conhecido como o guerrilheiro, dedicou a maior parte de sua vida, não à luta armada e sim, aos debates poéticos,  e políticos, como Deputado Federal, pela Bahia. Além de ser Professor universitário.
                                                                                          Maria  Rita do Nascimento, a mãe
A primeira vez que foi preso, em 1932, o foi como o poeta, que criticou em seu poema, o, então, Interventor da Bahia, nomeado por Getúlio Vargas, Juracy Magalhães.
Clara Charf, a viúva
Carlos Augusto, o filho

Carteira de filiação ao Partido Comunista
Brasileiro (PCB), em 1934
Tempos de Marighella
                                                               Mário Magalhães


Entrevista com o autor do livro Marighella - O guerrilheiro que incendiou o mundo
Mário Magalhães foi o entrevistado de ontem (01) do Programa Globo News Miriam Leitão.

O Populismo caminha, quase sempre, de mãos dadas, com a Ditadura

Marta Caetetu - às 19h 08

Escancarada ou Disfarçada, Ela permanece em voga

Conhecer a História é tarefa hercúlea, mas é possível conhecer, ao menos, um pouco, a nossa história. E antes mesmo de caminhar no sentido de conhecê-la, devemos ter em mente que somos seres mortais e não divinos. Logo, não produzimos milagres quaisquer. 

Não por acaso, sublinho o fato de que não há uma ação política que possa  se autoproclamar como a gênese da  transformação das querelas sociais. Àquela, se sobrepõem diversas e variadas ações, tendo por consequência frutos diferentes, mas que têm antecedentes enraizados.

Desse modo, as palavras de Carlos Vereza são muito lúcidas e devem ser utilizadas para reflexão mais atenta e profunda.
A Educação Institucional não é tudo, mas é de suma importância às interações que propiciem trocas para além do cotidiano.

Ao final, registre seu comentário. Mas atenção, reflita antes do registro. Não se deixe levar por paixões e interesses imediatos.

                                                                   - 2010 -

O Aniversário de Iolanda - "Gracias a la Vida": A Música de Violeta Parra, como Memória

RJ, 23/10/2012
O Aniversário de Iolanda
Autora: Marta Caetetu

Parte V
A Música como Memória
Violeta Parra
Este é um capítulo especial na história  O Aniversário de Iolanda, porque lutar contra opressores é um ato político nascido no momento em que a exploração de homens e mulheres se inicia. Fato que se apresenta como um dos nossos atavismos. 
A música é uma arte que nos move no presente, é capaz de nos remeter a passado imemorial, bem como nos suportar na caminhada para um futuro.
Desse modo, minha lembrança inicial foi a chilena Violeta Parra, com sua composição Gracias a la Vida, conhecida em todos os cantos do mundo, graças, fundamentalmente, a ousadia da maravilhosa cantora argentina, Mercedes Sosa.  

   A cantora Mercedes Sosa levou a música da chilena 
Violeta Parra para todos os cantos mundo. Proibida de 
cantar na Argentina durante a ditadura militar (1976-1983), 
exilou-se em Paris e, posteriormente, em Madri.

]
O canto e a interpretação de Elis Regina ampliam
a beleza e o sucesso da canção, já amplamente consagrada,
Gracias a la Vida, dez anos após seu lançamento
por Violeta Parra - Show "Falso Brilhante, 1976 - Ditadura militar
no Chile, na Argentina e no Brasil.


Mercedes Sosa e Maria Rita, filha de Elis 
Regina - Em São Paulo, 2007.



                                                 1998 - Homenagem  a Salvador Allende,
                                  em Santiago do Chile. A primeira a cantar, é Isabel Parra,
                                               filha de Violeta e a segunda, Tita Parra, neta de
                                                              Violeta; filha de Isabel.

segunda-feira, 22 de outubro de 2012

O Aniversário de Iolanda - Uma Década Paulistana: do Porto de Santos à Hospedaria do Imigrante

RJ, 21/10/2012
Autora: Marta Caetetu
O Aniversário de Iolanda

(...)

Parte IV
Uma Década Paulistana

Naquele ano de 1940, Lucien Duby, jornalista francês sexagenário, que chegou ao Brasil no ano da comemoração do 10° Aniversário da Proclamação da República, com 25 anos de idade, era o contato do grupo que lutara na Espanha e que se dispusera a receber Felipe e Beatriz. 

O casal e as crianças estavam a bordo do navio que cruzava o Atlântico e atracava no Porto da Cidade de Santos, em São Paulo. Embarcados, imigrantes de diferentes partes da Europa, chegavam ao país para trabalhar, fundamentalmente, no setor agrícola. Felipe e Beatriz faziam parte de um pequeno grupo de exceção, porque os vínculos e ou contatos no Brasil eram ligados a setores como a indústria, a imprensa ou o teatro. O casal López ingressaria no Jornal A Gazeta, jornal paulistano, fundado em 1906 e um dos mais importantes do país, no século XX.
Depois de 29 dias e treze horas de viagem, Lucien, segurando um cartaz*, aguardava ser identificado por Felipe e Beatriz. 
Ao se aproximarem, Lucien, visivelmente, tão emocionado quanto o jovem casal, que lutara contra a  direita espanhola, abraçou as crianças:

__ Sejam muito bem-vindos, mes enfants!  

Estação da Luz
Felipe e Beatriz choravam como se despejassem toda a tristeza testemunhada nos anos de guerra. Abraçados, buscavam na memória os momentos com Henrique e Dolores...
Logo após, Lucien retirou-se rapidamente, porque o fato de estar ali, fora uma concessão, de próprio punho, do então Presidente Getúlio Vargas.
Ao desembarcar, os imigrantes eram conduzidos, diretamente, para o trem com destino à Estação da Luz, na Cidade de São Paulo, cuja plataforma era a porta de entrada para a Hospedaria do Imigrante, inaugurada em 1885, no bairro do Brás. 
Na Hospedaria, faziam a primeira refeição em terra firme e, caso necessário, recebiam cuidados médicos imediatos. Depois, eram conduzidos aos dormitórios. No dia seguinte, no início da manhã, acontecia a  verificação de documentos e condições de saúde; recebiam um "cartão de rancho" garantindo sua   permanência, ali,  por seis dias. O prazo era ampliado nos casos constatados de comprometimento clínico, destacadamente, quadros infectocontagiosos.
Além disso, o imigrante assinava contrato de trabalho na  Agência Oficial de Colonização e Trabalho - prédio anexo à Hospedaria



Felipe, Beatriz e as crianças ficaram dois dias na Hospedaria
Lucien, que já havia preparado sua casa, no bairro Jardim Paulista, dirige rumo à terra firme, que abriga seus novos amigos.  
Passados três anos, os espanhóis, como eram, carinhosamente, chamados por Lucien, já moravam em sua própria casa, comprada com a ajuda do francês.
A amizade entre eles crescia com o passar do tempo e Lucien, que não tinha parente algum no Brasil, era solteiro e praticante do exercício intelectual, adotara a pequena família espanhola.
Nas conversas mais longas, Henrique e Dolores eram lembrados. Passados mais de cinco anos, o Governo de Franco não fornecera qualquer informação a respeito da morte do casal, após prisão e tortura.
No inverno de 1949, aos 75 anos,  Lucien faleceu. Em seu testamento, os espanhóis foram subscritos como seus herdeiros.
Uma vez mais, a dor dilacerava a alma de Felipe e Beatriz; Maria Antônia e Francisco também ficaram bastante abalados; passaram uns três dias em casa, brincando apenas com Íris, filha de Bernadette, empregada de Lucien por mais de trinta anos. 
Com a ausência do grande amigo, a mudança de ares era uma questão imediata.
Beatriz conversou com Bernadette a respeito da mudança e do desejo de Íris em estudar medicina.
__ Querida Bernadette, eu e meu esposo resolvemos que a hora de partir, chegou. Decidimos nos mudar para a Capital Federal e ficaríamos felizes e honrados se você e sua filha fossem conosco; formando uma família especial, uma família franco-espanhola.

__ Agradeço, dona Beatriz.

__ Por favor, Bernadette, somente Beatriz.

__ Levando em conta, que ficaremos juntos, creio que Íris  ficará radiante.

__ E você?

Então, Bernadette deu um longo abraço em Beatriz.

Em uma bela manhã de primavera de 1949, despediram-se das recordações paulistanas e viajaram para o Rio de Janeiro.


*Estava escrito assim: Espanhóis, o amigo francês está feliz. O "anúncio" da placa foi combinado com o grupo que estava lutando na Espanha.

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sábado, 20 de outubro de 2012

O "desaparecimento" de Stuart Angel:"Apesar de você, amanhã há de ser outro dia..."

Marta Caetetu - às 23h 46
Stuart Edgar Angel Jones 
          BRASILEIRO,
               ESTUDANTE,
                       GUERRILHEIRO,
                       INTEGRANTE DO MR-8 (movimento de luta              armada contra a ditadura militar, no Brasil)
Sônia Maria
                                              
Zuzu Angel
Stuart, filho de Zuleica Angel Jones, conhecida como Zuzu Angel e do estadunidense Norman Jones; irmão de Ana Cristina e Hildegard; casado com Sônia Morais Jones - Preso, Torturado, Assassinado e dado como desaparecido, no Rio de Janeiro, na Base Aérea do Galeão, em 1971, aos 24 anos de idade. Sua esposa, integrante do MR-8, inicialmente, e da  Ação Libertadora Nacional (ALN), foi Presa, Torturada e Assassinada dois anos depois.  O corpo de Stuart jamais foi localizado e sua mãe lutou o quanto pôde para que o Governo Militar reconhecesse o fato. Isso não     ocorreu. 
Zuzu morreu em um acidente de automóvel, em 1976, mas as condições jamais foram esclarecidas.




O Aniversário de Iolanda - O Passado em Guernica

RJ, 20/10/2012
Autora: Marta Caetetu
O Aniversário de Iolanda
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Parte III

O Passado em Guernica

Maria Antônia e Francisco vieram da Espanha para o Brasil, em 1940, ainda crianças, com os pais dela.  Ela com seis anos e Francisco com oito. Seus pais foram amigos e lutaram, lado a lado, na Guerra Civil Espanhola, após o fracassado golpe militar de 1936, contra o governo de esquerda, chamado de republicano, iniciado em 1931.

As famílias eram de Guernica, cidade basca, no extremo norte da Espanha. Bombardeios de aviões alemães (da Legião Condor), apoiando os militares rebelados (chamados nacionalistas), destruíram a cidade, em 26 de abril de 1937. Nesse mesmo ano, Pablo Picasso pintou um painel, mundialmente conhecido, sobre os ataques à Guernica.
Guernica - 1937

Os parentes de Francisco, com exceção dos pais, Henrique e Dolores, que lutavam em Valência, morreram nesse ataque.
A guerra durou até 1939, com a vitória dos nacionalistas, iniciando-se um período de ditadura, sob o comando do General Francisco Franco, que permaneceu no poder até sua morte, em 1976.
Em junho de 1939, os pais de Francisco foram presos, sem que qualquer informação fosse dada aos amigos que por eles procuraram. Temendo igual destino, Felipe e Beatriz, pais de Maria Antônia, voltaram à Guernica para planejarem a saída da Espanha, levando a filha e o pequeno órfão, Francisco.
Inicialmente, queriam fugir para a União Soviética, mas sabiam que Stálin não era nada confiável. Então, seguindo orientação de um pequeno grupo de franceses, que ainda estava em território espanhol, resolveram pelo Brasil como destino, não para trabalharem nas lavouras de café. Felipe e Beatriz trabalhariam em um jornal de São Paulo. E foi em uma tarde de janeiro de 1940, que  a família López e o pequeno Francisco García de Los Rios chegaram à Cidade de São Paulo.


Imagens de Guernica






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O Aniversário de Iolanda - Detalhes

RJ, 20/10/2012
O Aniversário de Iolanda
Autora: Marta Caetetu

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Parte II
Detalhes


Hércules entrou em casa trazendo a torta e foi deixá-la na cozinha, onde sua mãe preparava um espaguete à bolonhesa para o almoço. 
Os quitutes para o lanche, o pai dos meninos já fora buscar a encomenda, que ele mesmo havia feito, com duas semanas de antecedência. 
Francisco, o pai, jamais fez questão de esconder como a relação de afinidade entre ele e a filha era singular. O que deixava até Maria Antônia, a mãe, com uma pontinha de ciúme de Iolanda. Hércules nunca ligou muito, porque sabia que era amado; que era apenas uma questão de personalidades afins. Não duvidava, um instante sequer, de que o pai daria a vida pelos dois.

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