via@Marta Caetetu

quinta-feira, 28 de abril de 2016

O Dia em que Adolfo Pérez Esquivel testemunhou a democracia no Brasil

O Prêmio Nobel da Paz (1980), o argentino Adolfo Pérez Esquivel testemunhou in loco a democracia brasileira em seu dia de glória retumbante.

Aberta uma rara exceção pelo Presidente da Mesa do Senado, Senador Paulo Paim, foi dada a palavra ao ilustre visitante, conduzido por alguns Senadores.

O sr. Esquivel, mesmo ferindo todas as letras do país, experimentou a mais pura liberdade.

Suas palavras romperam a máscara de que não há golpe em curso no Brasil. 



E que o almoço com o Senador Cristovam Buarque tenha sido livre, leve e solto.

quinta-feira, 21 de abril de 2016

Eu sei, mas não devia
Marina Colasanti

Eu sei que a gente se acostuma. Mas não devia. A gente se acostuma a morar em apartamentos de fundos e a não ter outra vista que não as janelas ao redor. E, porque não tem vista, logo se acostuma a não olhar para fora. E, porque não olha para fora, logo se acostuma a não abrir de todo as cortinas. E, porque não abre as cortinas, logo se acostuma a acender mais cedo a luz. E, à medida que se acostuma, esquece o sol, esquece o ar, esquece a amplidão.

A gente se acostuma a acordar de manhã sobressaltado porque está na hora. A tomar o café correndo porque está atrasado. A ler o jornal no ônibus porque não pode perder o tempo da viagem. A comer sanduíche porque não dá para almoçar. A sair do trabalho porque já é noite. A cochilar no ônibus porque está cansado. A deitar cedo e dormir pesado sem ter vivido o dia.

A gente se acostuma a abrir o jornal e a ler sobre a guerra. E, aceitando a guerra, aceita os mortos e que haja números para os mortos. E, aceitando os números, aceita não acreditar nas negociações de paz. E, não acreditando nas negociações de paz, aceita ler todo dia da guerra, dos números, da longa duração.
A gente se acostuma a esperar o dia inteiro e ouvir no telefone: hoje não posso ir. A sorrir para as pessoas sem receber um sorriso de volta. A ser ignorado quando precisava tanto ser visto.

terça-feira, 19 de abril de 2016

Olhando no espelho: Somos debatedores e objeto, ao mesmo tempo


Não por acaso,   a      discussão    acerca     do status (e primazia) do indivíduo e da sociedade possui matrizes de pensamento distintas.

De todo o modo, o fato de um não existir sem o outro é elemento comum em todas as matrizes, o que resulta na realidade sobre a qual insistimos debater, mas, sem a clareza de que somos debatedores e objeto, ao mesmo tempo.



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Manuel Bandeira - Simples assim

  "Quero a delícia de poder sentir as coisas mais simples.”
(Manuel Bandeira)

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Que seja a paz



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"Quarto de despejo" e a questão social no Brasil


“A tontura da fome é pior do que a do álcool. A tontura do álcool nos impele a cantar. Mas a da fome nos faz tremer. Percebi que é horrível ter só ar dentro do estômago.”
– Carolina Maria de Jesus, em “Quarto de despejo”, 1960.


Nos anos 80, na Universidade Federal Fluminense, o Curso de Ciências Sociais, por meio da disciplina de Antropologia, "Quarto de despejo" era leitura básica para a percepção mais profunda da questão social no Brasil.

No vídeo, pesquisadora da FAPESP aponta aspectos extraordinários da escrita de Carolina de Jesus.

Conjunção de forças conservadoras

 Oscar Vilhena, professor de Direito Constitucional da FGV/SP e doutor em ciência política, analisa a conjunção de forças que derrotaram a presidente Dilma Rousseff na Câmara dos Deputados.

Pautas conservadoras a vista!

Nichos políticos na Câmara dos Deputados

 Conservador ou progressista, a Câmara dos Deputados é povoada por representantes/herdeiros de nichos políticos.




Linhagens feudais

Gráficos da votação na Câmara dos Deputados



segunda-feira, 18 de abril de 2016

Crise política: também somos responsáveis

          Com exceção do processo de impeachment de um Presidente, continua a ser uma reflexão bem presente. (07/05/2018)

          Fascismo?
          Stalinismo?
          Populismo?

Não! Não! Não!

Vivemos tempos difíceis no Brasil. 
Pela Câmara dos Deputados, foi aprovado prosseguimento de processo de impeachment da Presidente,
O deputado Jair Bolsonaro reverencia a tortura,
Os deputados, em sua maioria, ao invés de sustentarem o voto em seu viés político-jurídico, fizeram uma verdadeira miscelânea; um deles, inclusive, disse que havia esquecido algo importante após ter declarado seu voto... havia esquecido de citar o nome do filho,
Outro queria que o filho declarasse o voto por ele.

Que políticos estamos elegendo?
Não é necessário ler ou escrever para saber que o político não pode delegar a terceiros sua participação em Plenário, ou fora dele, nas ações pertinentes ao mandato que lhe foi conferido.

Estamos refletindo acerca da nossa participação nestes tempos difíceis ou pensando que somente em Brasília residem questões do tipo corrupção, tráfico de influência e etc.?

Queiramos ou não, fazemos parte do jogo.
As mudanças que precisam ser realizadas só o poderão ser, se e somente se, como ressonância da sociedade brasileira.

domingo, 17 de abril de 2016

Capitu no dia do Beijo -- E viva Machado de Assis!


(...) Que pensais que fez Capitu? Não vos esqueçais que estava sentada, de costas para mim. Capitu derreou a cabeça, a tal ponto que me foi preciso acudir com as mãos e ampará-la; o espaldar da cadeira era baixo. Inclinei-me depois sobre ela rosto a rosto, mas trocados, os olhos de uma na linha da boca do outro. Pedi-lhe que levantasse a cabeça, podia ficar tonta, machucar o pescoço.
Cheguei a dizer-lhe que estava feia; mas nem esta razão a moveu.

- Levanta, Capitu!
Não quis, não levantou a cabeça, e ficamos assim a olhar um para o outro, até que ela abrochou os lábios, eu desci os meus, e...
Grande foi a sensação do beijo; Capitu ergueu-se, rápida, eu recuei até à parede com uma espécie de vertigem, sem fala, os olhos escuros. Quando eles me clarearam vi que Capitu tinha os seus no chão.
Não me atrevi a dizer nada; ainda que quisesse, faltava-me língua. Preso, atordoado, não achava gesto nem ímpeto que me descolasse da parede e me atirasse a ela com mil palavras cálidas e mimosas...
(Machado de Assis, Dom Casmurro – Capítulo 33: O Penteado)





Impeachment? A sociedade já perdeu

           Ao chegarmos ao ponto em que estamos, como disse o líder do PDT, há pouco, no Plenário da Câmara dos Deputados, não haverá resultado positivo para a sociedade brasileira ao final da votação, que determinará ou não o prosseguimento do processo de afastamento da Presidente da República.

          Por quê? Já perdemos todos, simples assim.

          Perdemos, porque a Educação é de qualidade sofrível,
          Perdemos, porque a Saúde agoniza na UTI,
      Perdemos, porque ainda há muitos que não possuem o que comer,
          Perdemos, porque a democracia está longe de ser um valor agasalhado (e desfrutado) por todos,
      Perdemos, porque fingimos solidariedade, quando os fatos demonstram o quanto o outro, o diferente, o que não quer permanecer invisível, é bombardeado de modo subliminar.

               Perdemos, porque não sabemos que o poder não pertence ao Estado ou a qualquer grupo político. Daí, alguns o tomarem de assalto.

A extravagante escrita do amor (Fernando Pessoa 5)

Todas as cartas de amor são ridículas

Todas as cartas de amor são
Ridículas.
Não seriam cartas de amor se não fossem
Ridículas.

Também escrevi em meu tempo cartas de amor,
Como as outras,
Ridículas.

As cartas de amor, se há amor,
Têm de ser
Ridículas.

Mas, afinal,
Só as criaturas que nunca escreveram
Cartas de amor
É que são 
Ridículas.

Quem me dera no tempo em que escrevia
Sem dar por isso
Cartas de amor
Ridículas.

A verdade é que hoje
As minhas memórias
Dessas cartas de amor
É que são
Ridículas.

(Todas as palavras esdrúxulas,
Como os sentimentos esdrúxulos,
São naturalmente
Ridículas.)

Álvaro de Campos
Heterônimo de Fernando Pessoa

Ele sabe que dói (Fernando Pessoa 4)

Autopsicografia

O poeta é um fingidor,
Finge tão completamente
Que chega a fingir que é dor
A dor que deveras sente.

E os que leem o que escreve,
Na dor lida sentem bem,
Não as duas que ele teve,
Mas só a que eles não têm.

E assim nas calhas de roda
Gira, a entreter a razão,
esse comboio de corda
Que se chama coração.

Valeu a pena? (Fernando Pessoa 3)

Mar Português

Ó mar salgado, quanto do teu sal
São lágrimas de Portuga!
Por te cruzarmos, quantas mães choraram,
Quantos filhos em vão rezaram!
Quantas noivas ficaram por casar
Para que fosses nos, ó mar!

Valeu a pena? Tudo vale a pena
Se a alma não é pequena.
Quem quer passar além do Bojador
Tem que passar além da dor.
Deus ao mar o perigo e o abismo deu,
Mas nele é que espelhou o céu.

Todos os sonhos em mim (Fernando Pessoa 2)





Tabacaria

Não sou nada.
Nunca serei nada.
Não posso querer ser nada.
À parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo.

Janelas do meu quarto,
Do meu quarto de um dos milhões do mundo.
que ninguém sabe quem é
(E se soubessem quem é, o saberiam?),
Dais para o mistério de uma rua cruzada constantemente por gente,
Para uma rua incessível a todos os pensamentos,
Real, impossivelmente real, certa, desconhecidamente certa,
Com o mistério das coisas por baixo das pedras e dos seres,
Com a morte a pôr umidade nas paredes
e cabelos brancos nos homens,
Com o Destino a conduzir a carroça de tudo pela estrada de nada.

Estou hoje vencido, como se soubesse a verdade,
Estou hoje lúcido, como se estivesse para morrer,
E não tivesse mais irmandade com as coisas
Senão uma despedida, tornando-se esta casa e este lado da rua
A fileira de carruagens de um comboio, e uma partida apitada
De dentro da minha cabeça,
E uma sacudidela dos meus nervos e um ranger de ossos na ida.

Estou hoje perplexo, como quem pensou e achou e esqueceu,
Estou hoje dividido entre a lealdade que devo
À Tabacaria do outro lado da rua, como coisa real por fora,
E à sensação de que tudo é sonho, como coisa real por dentro.

Falhei em tudo.
Como não fiz propósito nenhum, talvez tudo fosse nada.
A aprendizagem que me deram,
Desci delas pela janela das traseiras da casa. 











Sinceridade poética (Fernando Pessoa 1)

Poema em linha reta
Fernando Pessoa

Nunca conheci quem tivesse levado porrada.
Todos os meus conhecidos têm sido campeões de tudo.
E eu, tantas vezes reles, tantas vezes porco, tantas vezes vil,
Eu tantas vezes irrespondivelmente parasita,
Indesculpavelmente sujo.
Eu, que tantas vezes não tenho tido paciência para tomar banho,
Eu, que tantas vezes tenho sido ridículo, absurdo,
Que tenho enrolado os pés publicamente nos tapetes das etiquetas,
Que tenho sido grotesco, mesquinho, submisso, e arrogante,
Que tenho sofrido enxovalhos e calado,
Que quando não tenho calado, tenho sido mais ridículo ainda;
Eu, que tenho sido cômico às criadas de HOTEL,
Eu, que tenho sentido o piscar dos olhos dos moços de fretes,
Eu, que tenho feito vergonhas financeiras, pedido emprestado
sem pagar,
Eu, que, quando a hora do soco surgiu, me tenho agachado
Para fora da possibilidade do soco;
Eu, que tenho sofrido a angústia das pequenas coisas ridículas,
Eu verifico que não atenho par nisto tudo neste mundo.

Toda a gente que eu conheço e que fala comigo  
Nunca teve um ato ridículo, nunca sofreu enxovalho,
Nunca foi senão príncipe - todos eles príncipes - na vida...

Quem me dera ouvir de alguém a voz humana 
Que confessasse não um pecado, mas uma infâmia;
Que contasse, não uma violência, mas uma cobardia!
Não, somos todos o Ideal, se os ouço e me falam.
Que há neste largo mundo que me confesse que uma vez foi vil?
Ó príncipes, meus irmãos,

Arre, estou farto de semideuses!
Onde é que há gente no mundo?

Então sou só eu que é vil e errônio nesta terra?

Poderão as mulheres não os terem amado,
Podem ter sido traídos - mas ridículos nunca!
E eu, que tenho sido ridículo sem ter sido traído,
Como posso eu falar com os meus superiores sem titubear?
Eu, que tenho sido vil, literalmente vil,
Vil no sentido mesquinho e infame da vileza. 

quinta-feira, 14 de abril de 2016

Despedida... Getúlio Vargas





Texto manuscrito de Getúlio Vargas - despedida - 24/08/1954


                                      CPDOC/FGV
  “Deixo à sanha dos meus inimigos, o legado da minha morte. Levo o pesar de não ter podido fazer, por este bom e generoso povo brasileiro e principalmente pelos mais necessitados, todo o bem que pretendia. A mentira, a calúnia, as mais torpes invencionices foram geradas pela malignidade de rancorosos e gratuitos inimigos numa publicidade dirigida, sistemática e escandalosa.
Acrescente-se a fraqueza de amigos que não defenderam nas posições que ocupavam à felonia de hipócritas e traidores a quem beneficiei com honras e mercês, à insensibilidade moral de sicários que entreguei à Justiça, contribuindo todos para criar um falso ambiente na opinião pública do país contra a minha pessoa.
Se a simples renúncia ao posto a que fui levado pelo sufrágio do povo me permitisse viver esquecido e tranqüilo no chão da pátria, de bom grado renunciaria.
Mas tal renúncia daria apenas ensejo para, com mais fúria, perseguirem-me e humilharem-me.
Querem destruir-me a qualquer preço. Tornei-me perigoso aos poderosos do dia e às castas privilegiadas.
Velho e cansado, preferi ir prestar contas ao Senhor, não dos crimes que não cometi, mas de poderosos interesses que contrariei, ora porque se opunham aos próprios interesses nacionais, ora porque exploravam, impiedosamente, aos pobres e aos humildes.
Só Deus sabe das minhas amarguras e sofrimentos.
Que o sangue dum inocente sirva para aplacar a ira dos fariseus.
Agradeço aos que de perto ou de longe me trouxeram o conforto de sua amizade.
A resposta do povo virá mais tarde...”
    




   









        

quarta-feira, 13 de abril de 2016

segunda-feira, 11 de abril de 2016

Encantando Claude Monet

      Casa Rosa 
21/09/2015





Giverny é uma minúscula cidadezinha na França, a 75km de Paris. Com ruazinhas tranquilas e uma igreja da Idade Média, possui pouco mais de 500 habitantes.
Em 1883 esta cidadezinha, bem em estilo rural, foi “descoberta” por Claude Monet, que passeando pela região se apaixonou.

Na Rede, em Rede... Qual é a Rede afinal?

Marina Silva defende, em palestra para estudantes brasileiros, em Chicago, EUA, a cassação da chapa Dilma-Temer.

Comissão da Câmara aprova Relatório

Às 20h 38, o deputado Rogério Rosso (PSD - DF) encerrou a sessão da Comissão, que teve como objetivo principal a votação do Relatório apresentado pelo deputado Jovair Arantes (PTB - GO).
Por 38 votos a 27, o Relatório a favor da admissibilidade do pedido subscrito pelos advogados Janaína Paschoal , Hélio Bicudo e Miguel Reale Júnior foi aprovado e, agora, seguirá para votação no Plenário da Câmara, integrada por 512 deputados, dos quais são necessários 2/3 para prosseguimento e, consequente, encaminhamento ao Senado. 

Telão da Câmara mostra resultado da votação na Comissão do Impeachment (Foto: Reprodução/TV Câmara) 


Integrantes da Comissão

PMDB
Titulares (8)
João Marcelo Souza (MA)
Altineu Côrtes (RJ)
Leonardo Picciani (RS)
Lúcio Vieira Lima (BA)
Mauro Mariani (SC)
Osmar Terra (RS) 
Valternir Pereira (MT)
Washington Reis (RJ)
Suplentes (8)
Alberto Filho (MA)
Carlos Marun (MS)
Elcione Barbalho (PA)
Hildo Rocha (MA)
Lelo Coimbra (ES)
Manoel Junior (PB)
Marx Beltrâo (AL)
Vitor Valim (CE) 

PTB
Titulares (3)
Benito Gama (BA)
Jovair Arantes (GO) - Relator
Luiz Carlos Busato (RS)
Suplentes (3)
Arnaldo Faria de Sá (SP)
Paes Landim (PI)
Pedro Fernandes (MA)


A arte no olhar

A elegância no início do século XX

                                                            

Pelo foco de uma lente

                                                                                                                                

Maxine Sullivan, age 10, with her father's large Graflex camera, at the beach of 1950's Melbourne, Australia.

Portugal - Patrimônios da Humanidade




 


Patrimônio da Humanidade

 

Mercado dos Lavradores
Funchal - Ilha da Madeira

Bernie Sanders: Um outsider na área Democrata

por Carlos Eduardo, editor-assistente                                                                                                                                                                         
bernie
"A future to believe..."

Leandro Konder (1936-2014)

               Marxismo sem dogmatismo                                    por Eduardo Carli de Moraes                                                                    image 

França: Ocupação da Praça da República

            Forças concentradas                                           para uma nova manifestação contra a reforma trabalhista.

domingo, 10 de abril de 2016

Amanheceu

Amanheceu.

Olho pela janela 
e vejo o céu a falar meio sério comigo, 
mas, não o compreendo em meio ao som de um trânsito, que me penetra e quase me enlouquece.
Sorrio... afinal, abro um livro, 
me delicio e só a ele empresto meus ouvidos.
O que devolvo? 

Muito bom dia!


(Marta Caetetu)

ISERJ/136 anos - "...Salve, glória te rendemos..."

136 anos II

Em Conferência da Brazilian Studies Association (Brasa)...



"Manifesto pró-Dilma causa racha entre brasilianistas"


BRASÍLIA, DF, BRASIL, 29-07-2010, 19h00: Brasilianista Anthony Pereira, dá entrevista para a Folha, no Garvey Hotel. (Foto: Marri Nogueira/Folhapress, PODER) ***ESPECIAL FOLHA***
Anthony Pereira - Cientista político e brasilianista

Hitler?

Ele também foi amado e idolatrado...

 

Formatura: UFF/1990 - Ciências Sociais

EU
 

Leandro Karnal: Vazio contemporâneo e espiritualidade


Volver?

por Marta Caetetu

Volver? Depende...
Um país que pratica uma educação lenta, gradual e restrita torna-se solo fértil para a ascensão de todo tipo de desvario civil ou militar. Não chegamos aqui pelo mágico poder das mídias, mas, porque não sabemos construir opinião e publicizá-la, assumindo o que aparece como se fora criado por nós mesmos. 

Não haverá transformação enquanto não houver uma educação, que, de fato, prime pela formação, em detrimento da (des) informação.

Eu, "proletária" não "domesticada"

por Marta Caetetu

Engenho de Dentro, RJ, professora, "proletária" abusada (porque não "domesticada"), 
insisto na valorização das ideias, sem perder de vista quem as transforma em projeto político.
As elites, empresarial e intelectual, brasileiras "esqueceram" de forjar novas lideranças políticas capazes de fazer frente a um timoneiro que atravessou o mar de lama, sujando, portanto, os pés, e, agora, serenidade precisa ser a palavra de ordem. 

Volver? Nem meia volta! 
Direita? Esquerda? Hoje é uma questão retórica
Sejamos firmes em prol da socialização das riquezas e da educação, para muito além do direito, sem, contudo, esquecermos que timoneiros desvairados não chegam ao centro do poder pela intervenção divina. A ascensão política está diretamente ligada à desinformação/deseducação e ao voto.

Reticências

"Tempo que foge"

Tempo que foge!
Ricardo Gondim


Contei meus anos e descobri 

que terei menos tempo para viver daqui para frente do que já vivi até agora. 
Sinto-me como aquele menino que ganhou uma bacia de jabuticabas. As primeiras, ele chupou displicente, mas percebendo que faltam poucas, rói o caroço.
Já não tenho tempo para lidar com mediocridades. Não quero estar em reuniões onde desfilam egos inflados. Não tolero gabolices. Inquieto-me com invejosos tentando destruir quem eles admiram, cobiçando seus lugares, talentos e sorte.
Já não tenho tempo para projetos megalomaníacos. 

Não participarei de conferências que estabelecem prazos fixos para reverter a miséria do mundo. 
Não vou mais a workshops onde se ensina como converter milhões usando uma fórmula de poucos pontos. Não quero que me convidem para eventos de um fim-de-semana com a proposta de abalar o milênio.
Já não tenho tempo para reuniões intermináveis para discutir estatutos, normas, procedimentos parlamentares e regimentos internos. 

Não gosto de assembleias ordinárias em que as organizações procuram se proteger e perpetuar através de infindáveis detalhes organizacionais.
Já não tenho tempo para administrar melindres de pessoas, que apesar da idade cronológica, são imaturos. Não quero ver os ponteiros do relógio avançando em reuniões de “confrontação”, onde “tiramos fatos à limpo”. 

Detesto fazer acareação de desafetos que brigaram pelo majestoso cargo de secretário do coral.
Já não tenho tempo para debater vírgulas, detalhes gramaticais sutis, ou sobre as diferentes traduções da Bíblia. 

Não quero ficar explicando porque gosto da Nova Versão Internacional das Escrituras, só porque há um grupo que a considera herética. Minha resposta será curta e delicada: – Gosto, e ponto final! Lembrei-me agora de Mário de Andrade que afirmou: “As pessoas não debatem conteúdos, apenas os rótulos”. Meu tempo tornou-se escasso para debater rótulos.
Já não tenho tempo para ficar dando explicação aos medianos se estou ou não perdendo a fé, porque admiro a poesia do Chico Buarque e do Vinicius de Moraes; a voz da Maria Bethânia; os livros de Machado de Assis, Thomas Mann, Ernest Hemingway e José Lins do Rego.
Sem muitas jabuticabas na bacia, quero viver ao lado de gente humana, muito humana; que sabe rir de seus tropeços, não se encanta com triunfos, não se considera eleita para a “última hora”; não foge de sua mortalidade, defende a dignidade dos marginalizados, e deseja andar humildemente com Deus. Caminhar perto dessas pessoas nunca será perda de tempo.

Saudade?

Idalia Candelas - ilustraçoes da solidão feminina pós-moderna

Imagens da solidão pós-moderna





 









 



 

Recado falado (Alceu Valença)

Recado falado (Metrô da Saudade)
Alceu Valença

Haverá sempre entre nós
Esse digo não digo
Esse T de tensão
Esse A de amor ressentido
Qualquer coisa no ar
Esse desassossego
Um recado falado
Um bilhete guardado, um segredo
Um carinho no lábio
Um desejo travado, um azedo
Qualquer coisa no ar
Esse desassossego
No Metrô da Saudade
Seremos fiéis passageiros
Um agosto molhado
Um dezembro passado em janeiro
Qualquer coisa no ar
Esse desassossego
Cessará finalmente entre nós
Esse minto não minto
Esse I de ilusão
Esse T de tensão infinito
Qualquer coisa no ar
Esse desassossego

The Little Yellow Duck

A COMOVENTE HISTÓRIA DO GRANDE PATO AMARELO QUE NUNCA SERVIRÁ A POLÍTICOS DESUMANOS COMO SKAF E SEUS ASSECLAS MUDOS NA FI(M)ESP

The Little Yellow Duck Project was created by Emma Harris in memory of her best friend, Clare Cruickshank, a kind and fun-loving person who lived life to the full. Clare loved being creative and could spend hours happily covered in glue and glitter or finding a way to make something with her sewing machine! She was also crazy about little yellow rubber ducks and had a huge collection of them in all shapes and sizes.
Clare was born with the genetic lung disease, cystic fibrosis, and by the age of 24, her lungs were so damaged that a transplant was her only hope of survival. Sadly a matching donor was never found and despite a long fight, she passed away on April 15th 2013 aged 26.
Despite her own time running out, Clare asked her Mum, Ann Rowcliffe, to promise to donate any organs or tissues that she could after her death. Although a matching donor hadn’t been found in time for her, she wanted to give someone else that chance and hope. As a result, the sight of two young adults has now been restored by receiving her corneas. Clare had the most stunning bright blue eyes that shone with life and enthusiasm. It’s a tribute to her generosity and kindness that others can now see life clearly as a result of her gift.
The Little Yellow Duck Project has been inspired by Clare’s generosity, her sense of fun and her love of little yellow ducks. Each handcrafted little yellow duck gift aims to spread a little happiness to its recipient and a little awareness of how we can each follow Clare’s example in saving or transforming the lives of others through blood, bone marrow, organ or tissue donation.

O Profeta - Khalil Gibran

O Profeta

Amai-vos um ao outro, mas não façais do amor um grilhão:

Que haja antes um mar ondulante entre as praias de vossas almas.

Encheis a taça um do outro, mas não bebais na mesma taça.

Dai de vosso pão um ao outro, mas não comais do mesmo pedaço.

Cantai e dançai juntos, e sede alegres, mas deixai cada um de vos estar sozinho,
Assim como as cordas da lira são separadas e, no entanto, vibram na mesma harmonia.

Dai vossos corações, mas não confieis a guarda um do outro.
Pois somente a mão da vida pode conter nossos corações.

E vivei juntos, mas não vos aconchegueis em demasia;
Pois as colunas do templo erguem-se separadamente,
E o carvalho e o cipreste não crescem a sombra um do outro.

Khalil Gibran

Os menestréis do blues - Música e Sociedade

A pré-história do blues: os menestréis e a entrada do negro no mercado musical

A pré história do blues: os menestréis e a entrada do negro no mercado musical













Música de dança do século XIX - Música e Sociedade

 


O nacional e o cosmopolita na música de dança do século XIX
A música de dança foi um dos negócios musicais mais lucrativos do século XIX. Do salão burguês e aristocrático aos salões públicos, a música para dançar virou uma verdadeira febre na Europa no período.
Seu sucesso ultrapassava fronteiras. O grande avanço na mobilidade advindo do crescimento das estradas de ferro, bem como um mercado organizado de distribuição musical internacional, estimulavam esse fenômeno. Assim, orquestras como a de Josef Lanner e Johann Strauss II empreendiam diversas turnês pela Europa, o que estimulava a criação de um estilo cosmopolita dentro dos gêneros musicais para dança. No entanto, grande parte da demanda vinha dos lugares de origens dessas orquestras, o que apontava a necessidade da assimilação das características musicais locais. Assim sendo, um grande esforço era empreendido pelos músicos-empresários na tentativa de equilibrar o nacional e o cosmopolita. Como aponta o musicólogo Derek B. Scott, “a valsa, os menestréis blackface, o music hall e o cabaré francês não demoravam para atravessar as fronteiras nacionais à medida que os meios de disseminação se encontravam disponíveis. A razão é simples: essa música se tornou disponível sob a forma de commoditie criada para a troca, e não devia jamais se limitar ao (gosto) local de maneira a se tornar confusa ou ininteligível para um público amplo” (Scott, 2011, p. 44).
#momentomusicaesociedade
...
Referência
SCOTT, D. Sounds of the Metropolis: The 19th Century Popular Music Revolution in London, New York, Paris and Vienna. Oxford: Oxford University Press, 2011
‪#‎musica‬ ‪#‎dança‬ ‪#‎strauss‬ ‪#‎orquestra‬ ‪#‎mercadomusical‬ ‪#‎dançadesalão‬ ‪#‎musichall‬

Beethoven - Música e Sociedade

 

Em seu livro "Música e Política: a Nona de Beethoven", o musicólogo argentino Esteban Buch desvenda a utilização desta composição pelos mais diversos propósitos políticos. Venha conhecer mais sobre o livro neste artigo do Música e Sociedade.

Monólogo Mundo Moderno - Chico Anysio

Monólogo Mundo Moderno

E vamos falar do mundo, mundo moderno
marco malévolo
mesclando mentiras
modificando maneiras
mascarando maracutaias
majestoso manicômio
meu monólogo mostra
mentiras, mazelas, misérias, massacres
miscigenação
morticínio, maior maldade mundial
madrugada, matuto magro, macrocéfalo
mastiga média morna
monta matumbo malhado
munindo machado, martelo
mochila murcha
margeia mata maior
manhãzinha move moinho
moendo macaxeira
mandioca
meio-dia mata marreco
manjar melhorzinho
meia-noite mima mulherzinha mimosa
Maria morena
momento maravilha
motivação mútua
mas monocórdia mesmice
muitos migram
macilentos
maltrapilhos
morarão modestamente
malocas metropolitanas
mocambos miseráveis
menos moral
menos mantimentos
mais menosprezo
metade morre
mundo maligno
misturando mendigos maltratados
menores metralhados
militares mandões
meretrizes marafonas
mocinhas, meras meninas,
mariposas
mortificando-se moralmente
modestas moças maculadas
mercenárias mulheres marcadas
mundo medíocre
milionários montam mansões magníficas
melhor mármore
mobília mirabolante
máxima megalomania
mordomo, Mercedes, motorista, mãos
magnatas manobrando milhões
mas maioria morre minguando!
moradia meia-água, menos, marquise
mundo maluco
máquina mortífera
mundo moderno melhore
melhore mais
melhore muito
melhore mesmo
merecemos
maldito mundo moderno
mundinho merda!

Chico Anysio

"Quando me amei de verdade"

Quando me amei de verdade
Por Portal Raízes
Quando me amei de verdade, compreendi que em qualquer circunstância, eu estava no lugar certo, na hora certa, no momento exato. E então, pude relaxar.
Hoje sei que isso tem nome… Autoestima
Quando me amei de verdade, pude perceber que minha angústia, meu sofrimento emocional, não passa de um sinal de que estou indo contra minhas verdades.
Hoje sei que isso é… Autenticidade
Quando me amei de verdade, parei de desejar que a minha vida fosse diferente e comecei a ver que tudo o que acontece contribui para o meu crescimento.
Hoje chamo isso de… Amadurecimento
Quando me amei de verdade, comecei a perceber como é ofensivo tentar forçar alguma situação ou alguém apenas para realizar aquilo que desejo, mesmo sabendo que não é o momento ou a pessoa não está preparada, inclusive eu mesmo.

Hoje sei que o nome disso é… Respeito

Quando me amei de verdade comecei a me livrar de tudo que não fosse saudável… Pessoas, tarefas, tudo e qualquer coisa que me pusesse para baixo. De início minha razão chamou essa atitude de egoísmo.

Hoje sei que se chama… Amor próprio

Quando me amei de verdade, deixei de temer o meu tempo livre e desisti de fazer grandes planos, abandonei os projetos megalômanos de futuro.Hoje faço o que acho certo, o que gosto, quando quero e no meu próprio ritmo.

Hoje sei que isso é… Simplicidade

Quando me amei de verdade, desisti de querer sempre ter razão e, com isso, errei menos vezes.

Hoje descobri a… Humildade

Quando me amei de verdade, desisti de ficar revivendo o passado e de me preocupar com o futuro. Agora, me mantenho no presente, que é onde a vida acontece.

Hoje vivo um dia de cada vez. Isso é Plenitude

Quando me amei de verdade, percebi que minha mente pode me atormentar e me decepcionar. Mas quando a coloco a serviço do meu coração, ela se torna uma grande e valiosa aliada.

Tudo isso é… Saber viver!
Várias fontes na internet atribuem o texto “Quando me amei de verdade” a Charles Chaplin, em detrimento da escritora Kim McMillen – autora do livro “Quando me amei de verdade” – Lançado pela Editora Sextante no Brasil em 2003.

quinta-feira, 24 de março de 2016

Un fantôme politicien?




Nem isto, nem aquilo: é preciso paz de espírito e caminho político refletido


Passado algum à direita ou à esquerda, deve ser esquecido


Futebol é uma arte... Johan Cruyff, um artista a quem digo adeus

Debate político infantilizado ou... não há debate?

Do que não fomos


Classe política e apropriação da representação

Vejam que interessante é o caso da Praça Talkin e do Parque Gezi, em Istambul. Faz meses que estão protestando por causa da destruição do último parque no centro histórico da cidade, para quê? Para construir um shopping center com um complexo turístico dedicado aos turistas, negando aos jovens o espaço que podiam ter para relacionar-se com a natureza. Mas também para reunir-se, para existir como tal. Portanto, é a negação do direito básico à cidade, como disse Lefèvre, há muito tempo, ‘é o direito a poder reunir-se e ocupar um espaço sem ter que pagar, sem ter que consumir e sem ter que pedir licença à autoridade. Por isso, do espaço protegido de liberdade na internet, tenta-se extrapolar a lógica da liberdade na internet, à liberdade no espaço público urbano. E não posso opinar sobre um movimento que não conheço em São Paulo, este momento, mas tem algumas características de tentar manifestar que a cidade é dos cidadãos e esse é um elemento fundamental em todas as mobilizações que observei no mundo”. Manuel Castells

Pelo direito à divergência: (2012) revisitando um passado recente...

Demétrio Magnoli 
Nos idos de 2005 o cientista político Wanderley Guilherme dos Santos formulou o discurso adotado pelo PT em face do escândalo do mensalão. O noticiário, ensinou, constituiria uma tentativa de “golpe das elites” contra o “governo popular” de Lula. No ano passado o autor da tese assumiu a presidência da Casa de Rui Barbosa, cargo de confiança subordinado ao Ministério da Cultura. É nessa condição que, em entrevista ao jornal Valor (21/9), ele reativa sua linha de montagem de discursos “científicos” adaptados às conveniências do lulismo. Desta vez, para crismar o julgamento do mensalão como “julgamento de exceção” conduzido por uma Corte “pré-democrática”.A entrevista diz algo sobre o jornalismo do Valor. As perguntas não são indagações, no sentido preciso do termo, mas introduções propícias à exposição da tese do entrevistado – como se (oh, não, impossível!) jornalista e intelectual engajado preparassem o texto a quatro mãos. Mas a peça diz uma coisa mais importante sobre o tema do compromisso entre os intelectuais e o poder: o discurso científico sucumbe no pântano da fraude quando é rebaixado ao estatuto de ferramenta política de ocasião.Os ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) narraram uma história de apropriação criminosa de recursos públicos e de fabricação de empréstimos fraudulentos pela direção do PT, que se utilizou para tanto das prerrogativas de quem detém o poder de Estado. Wanderley Guilherme, contudo, transita em universo paralelo, circundando o tema da origem do dinheiro e repetindo a versão desmoralizada da defesa: “O que os ministros expuseram até agora é a intimidade do caixa 2 de campanhas eleitorais (...). Isso eles se recusam a discutir, como se o que eles estão julgando não fosse algo comum (...), como se fosse algum projeto maligno”.
Projeto de poder
Wanderley Guilherme não parece incomodado com a condenação dos operadores financeiros do esquema, mas interpreta os veredictos dos ministros contra os operadores políticos (ou seja, os dirigentes do PT) como frutos de um “desprezo aristocrático” pela “política profissional”. O dinheiro desviado serviu para construir uma coalizão governista destituída de um mínimo de consenso político, explicou a maioria do STF. O cientista político, porém, atribui o diagnóstico a uma natureza “pré-democrática” de juízes incapazes de compreender tanto os defeitos da legislação eleitoral brasileira quanto o funcionamento dos “sistemas de representação proporcional”, que “são governados por coalizões das mais variadas”.
O núcleo do argumento serviria para a defesa de todo e qualquer “mensalão”. Os acusados tucanos do “mensalão mineiro” e os acusados do DEM do “mensalão de Brasília” estão tão amparados quanto os petistas por uma concepção da “política profissional” que invoca a democracia para justificar a fraude do sistema de representação popular e qualifica como aristocráticos os esforços para separar a esfera pública da esfera privada. A teoria política da corrupção formulada pelo intelectual deve ser lida como um manifesto em defesa de privilégios de impunidade judicial do conjunto da elite política brasileira.
Mas, obviamente, o argumento perde a força persuasiva se for lido como o que, de fato, é. Para ocultar seu sentido, conferindo à obra uma coloração “progressista”, Wanderley Guilherme acrescenta-lhe uma camada de tinta fresca. A insurreição “aristocrática” do STF contra a “política democrática” derivaria da rejeição a uma novidade histórica: a irrupção da “política popular de mobilização”, representada pelo PT. A Corte Suprema estaria “reagindo à democracia em ação” por meio de um “julgamento de exceção”, um evento singular que “jamais vai acontecer de novo”.
É nesse ponto do raciocínio que a teoria política da corrupção se transforma na corrupção da teoria política. Uma regra inviolável do discurso científico, explicou Karl Popper, é a exigência de consistência interna. Um discurso só tem estatuto científico se estiver aberto a argumentos racionais contrários. Quando apela à profecia de que os tribunais não julgarão outros casos com base na jurisprudência estabelecida nos veredictos do mensalão, Wanderley Guilherme embrenha-se pela vereda da fraude científica. A sua hipótese sobre o futuro – que, logicamente, não pode ser confirmada ou falseada – impede a aplicação do teste de Popper.
Há duas leituras contrastantes, ambas coerentes, sobre o “mensalão do PT”. A primeira acusa o partido de agir “como os outros”, entregando-se às práticas convencionais da tradição patrimonial brasileira e levando-as a consequências extremas. O diagnóstico, uma “crítica pela esquerda”, interpreta o extenso arco de alianças organizado pelo lulismo como fonte de corrupção e atestado da falência da natureza transformadora do PT. A segunda acusa o partido de operar, sob o impulso de um projeto de poder autoritário, com a finalidade de quebrar os contrapesos parlamentares ao Executivo e se perpetuar no governo. A “crítica pela direita” distingue o “mensalão do PT” de outros casos de corrupção política, enfatizando o caráter centralizado e as metas de longo prazo do conjunto da operação.
Reflexo especular
A leitura corrompida de Wanderley Guilherme forma uma curiosa alternativa às duas interpretações. Seu núcleo é uma celebração da corrupção inerente à política patrimonial tradicional, que seria a “política profissional” nos “sistemas de representação proporcional”. Seu verniz aparente, por outro lado, é um elogio exclusivo da corrupção petista, que expressaria a “irrupção da política de mobilização popular” e a “democracia em ação”.
Na fronteira em que o pensamento acadêmico se conecta com a empulhação militante, o paradoxo pode até ser batizado como dialética. Contudo mais apropriado é reconhecê-lo como um reflexo especular da fotografia na qual Paulo Maluf e Lula da Silva reelaboram os significados dos termos “direita” e “esquerda”.
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[Demétrio Magnoli é sociólogo e doutor em Geografia Humana pela USP]

A filósofa Marcia Tiburi e o perfil fascista


 Afinal... Como conversar com um fascista?

Elisa Marconi e Francisco Bicudo
height=Autora de um número respeitável de livros – que tratam de meios de comunicação ao consumo de drogas, passando por discussões sobre ética e sobre o corpo –, a filósofa Marcia Tiburi tem vivido uma experiência inédita depois da publicação de sua obra mais recente. Como conversar com um fascista, livro lançado no final do ano passado pela editora Record, tem ajudado a alimentar os espíritos inquietos daqueles que estão inconformados com o autoritarismo que contamina nosso tecido social; simultaneamente, o livro também tem sido o disparador de reações violentíssimas contra a autora. “Sim, tem aparecido gente muito violenta, a me afrontar e ofender. Não é só comigo. Outros escritores também têm sofrido isso. Talvez seja a prova mesmo de que os fascistas do cotidiano estão aí, agindo”, ensina a filósofa.
Em Como conversar com um fascista, Marcia Tiburi procura traçar o perfil dos fascistas que desfilam pelas ruas e pelas redes sociais atualmente e convida – quase que de forma irresistível – àqueles que não querem compactuar com essa forma sectária de tratar e destratar o outro (qualquer que seja esse outro diverso) a partir para a disputa de ideias e projetos. Para ela, essa resistência se dá construindo estofo teórico e encarando o embate com os obtusos, porque essa seria a única forma “de não ser engolido, de não fazer coro, de impedir que o fascismo se consagre como única opção”.
A reportagem da Revista Giz conversou com a filósofa no último final de semana.