Marta Caetetu - às 12h 28
"A coragem é o que dá sentido à liberdade"
Miruna Genoino
10/10/2012
"A coragem é o que dá sentido à liberdade"
Você teria coragem de assumir como
profissão a manipulação de informações e a especulação? Se sentiria feliz,
praticamente em êxtase, em poder noticiar a tragédia de um político honrado?
Acharia uma excelente ideia congregar 200 pessoas na porta de uma casa familiar
em nome de causar um pânico na televisão? Teria coragem de mandar um fotógrafo
às portas de um hospital no dia de um político realizar um procedimento
cardíaco? Pois os meios de comunicação desse nosso país sim tiveram coragem de
fazer isso tudo e muito mais. O texto é de Miruna Genoino.
Miruna Genoino
10/10/2012
(*) Carta escrita
pela filha de José Genoino.
Com essa frase, meu pai, José Genoino Neto, cearense, brasileiro, casado,
pai de três filhos, avô de dois netos, explicou-me como estava se sentindo em
relação à condenação que hoje, dia 9 de outubro, foi confirmada. Uma frase
saída do livro que está lendo atualmente e que me levou por um caminho enorme
de recordações e de perguntas que realmente não têm resposta.
Lembro-me que quando comecei a ser consciente daquilo que meus pais tinham
feito e especialmente sofrido, ao enfrentar a ditadura militar, vinha-me uma
pergunta à minha mente: será que se eu vivesse algo assim teria essa mesma
coragem de colocar a luta política acima do conforto e do bem estar individual?
Teria coragem de enfrentar dor e injustiça em nome da democracia?
Eu não tenho essa resposta, mas relembrar essas perguntas me fez pensar em
muitas outras que talvez, em meio a toda essa balbúrdia, merecem ser
consideradas...
Você seria perseverante o suficiente para andar todos os dias 14 km pelo sertão
do Ceará para poder frequentar uma escola? Teria a coragem suficiente de
escrever aos seus pais uma carta de despedida e partir para a selva amazônica
buscando construir uma forma de resistência a um regime militar? Conseguiria
aguentar torturas frequentes e constantes, como pau de arara, queimaduras,
choques e afogamentos sem perder a cabeça e partir para a delação? Encontraria
forças para presenciar sua futura companheira de vida e de amor ser torturada
na sua frente? E seria perseverante o suficiente ao esperar 5 anos dentro de
uma prisão até que o regime político de seu país lhe desse a liberdade?
E sigo...
Você seria corajoso o suficiente para enfrentar eleições nacionais sem nenhuma
condição financeira? E não se envergonharia de sacrificar as escassas economias
familiares para poder adquirir um terno e assim ser possível exercer seu
mandato de deputado federal? E teria coragem de ao longo de 20 anos na câmara
dos deputados defender os homossexuais, o aborto e os menos favorecidos? E
quando todos estivessem desejando estar ao seu lado, e sua posição fosse de
destaque, teria a decência e a honra de nunca aceitar nada que não fosse o
respeito e o diálogo aberto?
Meu pai teve coragem de fazer tudo isso e muito mais. São mais de 40 anos
dedicados à luta política. Nunca, jamais para benefício pessoal. Hoje e sempre,
empenhado em defender aquilo que acredita e que eu ouvi de sua boca pela
primeira vez aos 8 anos de idade quando reclamava de sua ausência: a única
coisa que quero, Mimi, é melhorar a vida das pessoas...
Este seu desejo, que tanto me fez e me faz sentir um enorme orgulho de ser
filha de quem sou, não foi o suficiente para que meu pai pudesse ter sua
trajetória defendida. Não foi o suficiente para que ganhasse o respeito dos
meios de comunicação de nosso Brasil, meios esses que deveriam ser olhados
através de outras tantas perguntas...
Você teria coragem de assumir como profissão a manipulação de informações e a
especulação? Se sentiria feliz, praticamente em êxtase, em poder noticiar a
tragédia de um político honrado? Acharia uma excelente
ideia congregar 200 pessoas na porta de uma casa familiar em nome de causar um
pânico na televisão? Teria coragem de mandar um fotógrafo às portas de um
hospital no dia de um político realizar um procedimento
cardíaco? Dedicaria suas energias a colocar-se em dia de eleição a falar, com a
boca colada na orelha de uma pessoa, sobre o medo a uma prisão que essa mesma
pessoa já vivenciou nos piores anos do Brasil?
Pois os meios de comunicação desse nosso país sim tiveram coragem de fazer isso
tudo e muito mais.
Hoje, nesse dia tão triste, pode parecer que ganharam, que seus objetivos foram
alcançados. Mas ao encontrar-me com meu pai e sua disposição para lutar e se
defender, vejo que apenas deram forças para que esse genuíno homem possa
continuar sua história de garra, HONESTIDADE e defesa daquilo que sempre
acreditou.
Nossa família entra agora em um período de incertezas. Não sabemos o que virá e
para que seja possível aguentar o que vem pela frente pedimos encarecidamente o
seu apoio. Seja divulgando esse e/ou outros textos que existem em apoio ao meu
pai, seja ajudando no cuidado a duas crianças de 4 e 5 anos que idolatram o avô
e que talvez tenham que ficar sem sua presença, seja simplesmente mandando uma
palavra de carinho. Nesse momento qualquer atitude, qualquer pequeno gesto nos
ajuda, nos fortalece e nos alimenta para ajudar meu pai.
Ele lutará até o fim pela defesa de sua inocência. Não ficará de braços
cruzados aceitando aquilo que a mídia e alguns setores da política brasileira
querem que todos acreditem e, marca de sua trajetória, está muito bem e muito
firme neste propósito, o de defesa de sua INOCÊNCIA e de sua HONESTIDADE. Vocês
que aqui nos leem sabem de nossa vida, de nossos princípios e de nossos
valores. E sabem que, agora, em um dos momentos mais difíceis de nossa vida,
reconhecemos aqui humildemente a ajuda que precisamos de todos, para que
possamos seguir em frente.
Com toda minha gratidão, amor e carinho,
Miruna Genoino
09.10.2012
Reproduzido de: http://t.co/5GeCPxGF
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