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sábado, 29 de setembro de 2012

Neymar na Capa da Revista Placar: Entre o Sagrado e o Profano

por Marta Caetetu    14h 23

Autora: Marta Caetetu

Inspirado na pintura original: quadro do
espanhol
Diego Velázquez
Símbolos são construções sociais - têm função e poder

Os símbolos são uma construção social e  têm função e poder nos diferentes grupos. Eles variam no tempo e no espaço, além de poderem comunicar significados diferentes, simultaneamente.
. E por serem uma construção social, carregam desejos, medos, interditos, etc., enfim, valores.
Desse modo, o conjunto referencial simbólico de 'A' pode não ser o de 'B', ainda que em parte coincidam.
Com relação à separação entre o sagrado e o profano, ocorre de igual modo, variando social e temporalmente. E nós somo capazes de imprimir diferentes significados a uma enormidade de elementos tanto para um, como para outro.
Mas quando uma mídia de comunicação utiliza um símbolo secular, atitude que não é exclusividade da mídia nacional, para dizer algo diferente do que ele significa, gera controvérsia.
No caso específico da capa da Revista Placar, com o jogador de futebol Neymar "crucificado", creio que seu idealizador foi profundamente infeliz, porque não é possível desassociar a analogia pretendida pela Revista, do poder simbólico da imagem  original.
Não sou católica, nem ortodoxa. Mas sei que os símbolos (para o bem ou para o mal), destacadamente,  funcionam como organizadores/suportes identitários.
A Igreja por seu lado,  lucra (e muito) com o símbolo que sustenta sua história. Já a Revista tem por objetivo (capitalista) o lucro, cujo sinal é dado a partir de cada capa produzida para cada edição.
 A CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil) protestou e a Revista emitiu seu ponto de vista (canhestro) e desculpo-se por meio de nota.
Não acredito  em cruzadas medievais por causa da referida capa, tampouco em me calar. Vivemos um tempo de excesso de licenciosidade em contraponto ao "politicamente correto", ou seja, ou se pode tudo, ou não se pode nada.
O que devemos pensar é na função própria dos símbolos, posto que eles continuarão a ser produzidos e apropriados de formas diversas,  em tempos de uma tal liberdade que beira  à logica hobbesiana.





Íntegra da nota da CNBB
  
A Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, CNBB, manifesta profunda 
indignação diante da publicação de uma fotomontagem que compõe a 
capa de uma revista esportiva na qual se vê a imagem de Jesus Cristo 
crucificado com o rosto de um jogador de futebol.
Reconhecemos a liberdade de expressão como princípio fundamental 

do estado e da convivência democrática, entretanto, que há limites 

objetivos no seu exercício. A ridicularização da fé e o desdém pelo 

sentimento religioso do povo por meio do uso desrespeitoso da

 imagem da pessoa de Jesus Cristo sugerem a manipulação 

e instrumentalização de um recurso editorial com mera finalidade comercial.

A publicação demonstrou-se, no mínimo, insensível ao recente quadro mundial 

de deplorável violência causado por uso inadequado de figuras religiosas, 

prestando, assim, um grave desserviço à consolidação da convivência 

respeitosa entre grupos de diferentes crenças.

A fotomontagem usa de forma explícita a imagem de Jesus Cristo crucificado, 

mesmo que o diretor da publicação tenha se pronunciado negando esse fato 

tão evidente, e isso se constitui numa clara falta de respeito que ofende o que 

existe de mais sagrado pelos cristãos e atualiza, de maneira perigosa, o já 

conhecido recurso de atrair a atenção por meio da provocação.

Fonte:




Íntegra da nota da Revista Placar


Em primeiro lugar, a Placar pede desculpas a quem se sentiu ofendido pela 

imagem de capa. Em nenhum momento foi intenção da revista ferir a religiosidade

 de ninguém. Respeitamos todas as crenças e defendemos a liberdade de 

praticá-las. Mas estamos falando exclusivamente de futebol. Vale esclarecer 

que a analogia da fotomontagem é com a crucificação como método de 

execução pública praticado antigamente. Como mostra a reportagem, 

Neymar vem sendo “apedrejado” publicamente com a pecha de “cai-cai”.

O maior jogador brasileiro, ícone da arte no esporte, virou, para muitos, 

o símbolo da dissimulação, da tentativa de burlar as regras do jogo. Ele 

cometeu e comete suas falhas, mas ficou com uma imagem de “criminoso esportivo”. 

Quando a reportagem estava sendo produzida, surgiu a palavra 

“crucificação”, usada corriqueiramente hoje em dia, e daí veio a imagem da 

condenação e da crucificação. Acreditamos que a leitura da reportagem será 

ainda mais esclarecedora.

Fonte:



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