via@Marta Caetetu

sexta-feira, 17 de maio de 2019

Mensagem #idiotautil

Mensagem de um idiota útil em agradecimento ao Senhor Presidente

Caro Senhor Presidente, meu nome é Edmar Scarabello, tenho 42 anos e sou natural de Jaú, interior de São Paulo. Sou formado em Engenharia Mecânica pela Universidade Federal de Uberlândia, situada no estado de Minas Gerais.

Ao longo de toda minha carreira venho acumulando elogios e reconhecimentos, tanto à minha pessoa quanto ao meu profissional, mas nunca, nem de longe, alguém conseguiu traduzir tão adequadamente o que me tornei na vida: um idiota útil.

De infância difícil, família pobre e morando na periferia da cidade, nunca precisei sair de dentro do meu lar para ter contato com violência doméstica, depressão, vício em alcoolismo, polícia na porta de casa, falecimento da mãe quando eu estava com sete anos e uma família completamente desestruturada. Essa era a minha rotina numa típica família tradicional que o senhor tanto defende no seu maravilhoso mundo de Alice, ou de Frozen? Lamento informar, mas há milhares de famílias iguais a minha. Por isso que somos tradicionais.

Vivendo num ambiente desses há sempre reflexos, por exemplo, no meu desempenho escolar. Sempre fui um aluno mediano, mais para baixo da média do que para cima. Ia para escola mais para ter paz e comida do que para aprender. Nessa época eu não sabia a “fórmula da água” e, honestamente, nem estava interessado em saber. Sobrevivência vem sempre em primeiro lugar. Em anexo uma foto do meu registro escolar para vossa lamentação e desprezo.

Aos treze anos de idade meu pai deixou o lar e passei a morar somente com minha irmã. Minha irmã trabalhava em dois empregos para suprir as despesas da casa e eu passei a trabalhar numa fábrica de calçados, passando cola em sapatos. Passava o dia respirando cola e durante a noite estudava num colégio técnico.

Foi uma professora, Luíza, que lançou um olhar diferenciado para minha pessoa e conseguiu uma bolsa de estudos para mim em um dos melhores colégios particulares de ensino médio da cidade. Luíza justificou o pedido da bolsa para o dono da escola dizendo que eu era um menino desperdiçado e que a Educação era a oportunidade de transformação da minha vida. Em troca da bolsa de estudos eu passei a trabalhar na secretaria da escola. Feito um conto de fadas, eu deixei de passar cola em sapatos para ter acesso à Educação de qualidade.

Frequentando um ambiente muito mais saudável, em meio a estudantes que se esforçavam para ingressar em faculdades e, trabalhando com os professores do colégio que, além de ensinarem, serviam de inspiração, eu passei a vislumbrar outros caminhos e oportunidades na vida. Passei a sonhar. Faculdade naqueles tempos era vista como lugar de gente rica.

Pela primeira vez eu ousei em sonhar com uma faculdade. Não foi fácil, mas através de muito estudo e esforço eu consegui. Numa época que não havia programas de cotas ou financiamentos, fui aprovado na Universidade Federal de Uberlândia, na Universidade Estadual de São Paulo e na primeira fase da Universidade Estadual de Campinas, que me dei ao luxo de nem fazer a segunda fase pois Uberlândia era meu objetivo. Lá, além de ser uma excelente faculdade na época, eu poderia morar com meu irmão para reduzir ao máximo as despesas. Pobre tem que se virar. Consegui até bolsa alimentação na faculdade para comer de graça no restaurante universitário.

A partir daí, uma nova pessoa se revelou dentro de mim: um idiota, como o senhor gosta de adjetivar. Só mesmo um idiota desacreditado na vida para passar a acreditar no valor do estudo, do esforço contínuo e do trabalho digno e honesto para obter resultados.

O aluno mediano do ensino fundamental, que quase reprovou em Matemática, imagina, se tornou um dos melhores alunos da Faculdade de Engenharia, onde mais de 30% dos alunos ingressantes desistem ou reprovam nas disciplinas de Cálculo Diferencial e Integral, Física ou Química. Não peça para vosso atual Ministro da Educação fazer a conta do percentual, ele vai errar.

Em anexo uma foto com o registro do meu desempenho no início da faculdade de Engenharia para vossa apreciação e admiração. Uma demonstração prática de como um pobre vira gente nesse país.

Dentro da faculdade participei de programas de excelência fomentado pela CAPES, realizei pesquisas, auxiliei em teses de mestrado, participei da Empresa Júnior e realizei trabalhos de estudo e extensão visando também, além da formação técnica, a formação humana. Tudo para aprimorar o pensamento da existência humana, das necessidades e do convívio em sociedade e das relações com as diferenças. Se não me engano, essas áreas de estudo são conhecidas como Filosofia e Sociologia. Deixa pra lá, não tem importância para o senhor.

De fato, eu sou mesmo um idiota. Como já disse, somente um idiota para valorizar tanto a Educação e, através de muito estudo, trabalho e sacrifício, ter uma formação de Excelência. Somente um idiota para ter trabalhado dez anos em empresas multinacionais no setor energético, gerenciando e administrando grandes contratos da área de transmissão e distribuição de Energia no país.

Somente um idiota para ter construído uma sólida carreira internacional, com 5 anos de atuação em países como Estados Unidos, Portugal e Alemanha. Lá, os grandes líderes e diretores das empresas gostavam de se reunir e sentar à mesa comigo.

Somente um idiota para falar três idiomas: Português, Inglês e Alemão. Somente um idiota para ter se beneficiado do dinheiro público para gerar valor para própria sociedade com intercâmbio de gestão e soluções tecnológicas pelo mundo.

Numa coisa o Senhor Presidente tem razão. Não pode ser qualquer idiota. Tem que ser um idiota útil. Útil para a sociedade. Útil para a Vida. Útil para os seres humanos e para a natureza.

A Luíza, minha professora, também tinha razão: a Educação poderia transformar minha vida como, de fato, transformou.
Por ironia do destino, a Luíza foi minha professora de Química no ensino técnico. Com ela eu aprendi não somente a “fórmula da água”, mas também a fórmula da ética, do caráter e a fórmula da crença na Educação que enobrece uma pessoa e colabora para o desenvolvimento de uma sociedade.

O resultado da minha vida poderia ter sido igual ao do Senhor, não um idiota, mas um esperto. Tem que ser muito esperto para se manter tantos anos se aproveitando e usufruindo da política sem nunca ter produzido nada de útil para sociedade.

Tem que ser muito esperto para não abrir mão de benefícios como “auxílio-moradia” usados para “comer gente”. Tem que ser muito esperto para se envolver com milícias, laranjas e "chocolatinhos".

Tem que ser muito esperto para “insitar” a violência, primeiro contra a Língua Portuguesa, mas, principalmente, contra os menos favorecidos, as diferenças e desigualdades sociais, usando armas em nome de Deus, da Fé e da família tradicional.

O Senhor Presidente não é um idiota. O Senhor é um esperto, mas é o esperto mais inútil que tive o desprazer de conhecer.

Já eu, do alto de minha idiotice útil, por vezes fútil, resolvi redirecionar minha carreira. Hoje tenho uma escola no interior do Ceará. A motivação para esse redirecionamento foi simples. Quem mudou minha vida foi a Educação através do olhar de uma professora e o gestor de uma escola. Então hoje eu me tornei o professor e o gestor na vida de outras pessoas sonhadoras com um futuro melhor e com melhores oportunidades. A Educação transformou minha vida e estou tentando devolver para a Vida o que a Vida me deu. Coisa de idiota, fala a verdade???

Há que se ter muito cuidado na interpretação dos fatos. Não tratem minha história de vida como uma exceção. Eu não sou e nem fui uma exceção. Exceção foi minha professora Luíza. Exceção foi o dono da escola que me concedeu a bolsa de estudos. Eles quem fizeram o papel do Estado e dos Governantes.

De onde eu vim, havia milhares de jovens com o mesmo potencial ou talento muito maior do que o meu, mas infelizmente eles não tiveram as mesmas oportunidades e acessos que eu tive. Talvez porque desde sempre não pertençamos à família tradicional. Talvez porque pretos, pobres, gays, indígenas e ateus tenham mesmo que arder todos no fogo do caldeirão dos governantes de uma nação. Esse tipo de gente só serve mesmo, quando muito, para votar, e olhe lá.

Apesar de tudo eu sou feliz e durmo em Paz. Eu prefiro continuar sendo esse idiota útil que uma Universidade Federal me fez. Eu sou o resultado da transformação através da Educação de Qualidade. Pessoas gostam de estar junto de mim.

O Senhor Presidente, de família branca tradicional, tem grande apreço e admiração pela beleza da família branca americana, mas, ao que me consta, nem eles querem sentar a mesa com o senhor. Bem-vindo ao mundo da opressão, da humilhação, da enganação e do preconceito. O mérito é todo do Senhor, esperto Presidente.

Na tentativa estúpida de fazer do Brasil uma inspiração no modelo americano, o senhor tem conseguido, através de tantas atrocidades, o descaso com a Educação e o armamento da população, transformar esse país num Afeganistão. No futuro estaremos todos correndo juntos “caçando pipas”. O senhor certamente não entenderá a metáfora pois prefere o Twiter a ler livros...

Antes de finalizar deixo aqui meus sinceros agradecimentos e reconhecimento para todos meus Professores, Mestres e Doutores da Universidade Federal de Uberlândia e para toda comunidade docente e discente do ensino público do nosso País.

Em especial para minha professora Luíza, por ter sido um anjo em minha vida.

Para nosso ilustríssimo Presidente eu deixo aqui meus sinceros agradecimentos. Eu já sabia a fórmula da água, mas graças ao senhor, eu descobri o que é Golden Shower.

Com estimas, de um idiota útil para um esperto inútil.
Edmar Scarabello

segunda-feira, 6 de maio de 2019

Vitrine

Não consigo acalmar a saudade...
Não consigo vencê-la.
Mas se ela tem que reinar, que o faça em paz.
Que reine em meu coração mas não seja o desassossego da minha alma ou a sombra nas noites insones.
Que eu possa fazer da saudade uma vitrine blindada das melhores lembranças, porque, assim, escolherei o melhor ângulo, o enquadramento e a iluminação.
E de você, terei sempre a melhor imagem: amor.

sábado, 6 de abril de 2019

Meu estatuto

Aos dezessete,  era tranquilo
Pulverizar o tempo
E soprá-lo em qualquer direção.
Hoje, conciliar meus tantos interesses Com os apelos de três décadas a mais, Provoca falhas...
Minha mente pede (e repete), e nela tudo realizo.
Mas, a teia já construída sinaliza que continuo a viver vinte e quatro horas por dia... nem mais, nem menos.
Então,  meu corpo fala, com alguma sabedoria, que a mente, em seu papel seletivo, encarrega-se da combinação perfeita.

quinta-feira, 28 de março de 2019

O fruto

Quero comer seu fruto,
E sentir prazer com
Seu corpo maduro,
Até saciar meu desejo...
E quando as folhas caírem,
A chuva molhar,
A terra beber,
Se não mais houver fruto,
Terei uma árvore para admirar,
Uma história para contar
E o gosto do seu corpo maduro
Em meu corpo estará.
Marta Caetetu

sábado, 23 de março de 2019

My Soul


Minha alma guarda,
Em segredo, tantos dizeres...
Sinto que sei mais
Do que penso e
Minhas emoções
Têm raízes em águas profundas.


quinta-feira, 21 de março de 2019

Olha

A chuva está caindo
E o vento quase canta.
Como o céu está cinzento,
Não posso ver a lua
Beijando o mar.
Mas imagino
Seu brilho e
Você a nos amar.

segunda-feira, 18 de março de 2019

Linhas do amor

Tiquetaqueando,
Segue o coração
Em linhas não desenhadas.
Tum... Tum... Tum...
É o compasso unitário
De um amor total,
Transversal,
Diagonal...


Renova vida

Pedras,
Folhas,
Pássaros,
Estrelas,
Sol,
Água do ribeirão...
Qualquer tristeza
Fica envergonhada,
Diante dos elementos
Sem que alguém os faça.
É vida pulsando,
Energia renovada,
Existência valorizada...
É amor alimentado
Em meu coração.


domingo, 17 de março de 2019

Sou poesia

Gosto de fazer de conta
Que sou poesia...
Às vezes, não posso brincar...
Você não sabe poetizar!
E eu,
Com a poesia quero
Valsar.
Em silêncio, sozinha
E tocando minhas memórias,
Compreendo
Que você não
Tornará...
Não virá dançar,
Porque não sabe poetizar...


Não sofra!

Se eu me esquecer do seu nome, não se entristeça..
Se eu me esquecer dos melhores momentos, não se aborreça...
O esquecimento não é bem-vindo,
nem, ao menos, querido.
Ainda não há o que fazer...
Ele chegou, sorrateiramente.
Aos primeiros lapsos, respondi com gargalhadas, porque acreditava que a profusão de ideias estivesse a atropelar minha mente.
Enganei-me...
Não adianta sofrer; não saberia a causa do sofrimento!
Neste instante, que ainda lembro do amor por você, renovo o sentimento e peço que o guarde, com carinho, em um  canto qualquer da sua memória.
E quando a ausência total chegar, lá estará o meu alento; lá  será o meu refúgio.


sábado, 2 de março de 2019

Ah, mar!



Enquanto olho, não o vejo.
Dentro de mim, nasce um desejo e
Uma nota fria arrepia minh' alma.
Agora, já não posso mais recuar...
Rapidamente, fixo o olhar,
Do imenso vazio, ele surge,
E eu...
Olho e vejo o meu mar.

Idiossincrasias

Eu gosto de dias nublados,
Eu gosto de nada fazer,
Eu gosto de café de coador de flanela,
Eu gosto de ler,
Eu gosto dos raios de sol na janela,
Eu gosto de carinhos açucarados.
Então,
Prefiro a letra lida,
A natureza bendita,
O amor sem medida,
A razão divertida,
Prefiro a liberdade amadurecida...
Enfim, prefiro você na minha vida!

Tela

A chuva na janela,
A janela fechada por ela,
Observando a tela,
A tela da vida dela.

quarta-feira, 27 de fevereiro de 2019

Em frente!

A noite parece que veio
Conversar comigo, dizendo:
"Pode dormir tranquila, porque só irei embora quando puder levar sua dor."
Não compreendi, prontamente.
Eu a ouvi mas estava surda para escutar.
Parei, meditei e escutei meu coração.
Ele batia triste e descompassado...
Repousei em meus desejos profundos
E reencontrei o passado.
Foi muita emoção!
Não havia o que lamentar;
Somente o que não poderia e não queria experimentar.
Cantei, pulei, amei...
Foram tantos e tantos bons momentos..
E enquanto meu filme rodava,
Rolaram lágrimas secas diante das dores sentidas, vividas e guardadas.
Neste instante, uni-me à noite
Como força vital.
Não sei bem o que aconteceu depois.
Já acordada, tive a impressão
De ter tido um sonho bom,
Porque havia tanta esperança
Pulsando por todo o meu corpo!
As dores já não doíam mais,
Os medos eram apenas sombras
E o desejo era de viver e amar.
Então, abri a porta e saí para caminhar e sentir a vida acontecer.
Fui pensar,
Repensar.
Fui amar,
Desamar.
Fui viver,
Renascer.

terça-feira, 26 de fevereiro de 2019

Confissões

Pousarei em um canto qualquer,
De uma folha qualquer.
Qualquer canto que transpire carinho.
Não estou no casulo
Mas estou metamorfoseando minhas emoções.
Preciso do silêncio, do escuro e da minha alma.
Não dá para conversar com ela ligada ao nosso admirável mundo louco, não é?
É sempre muito bom ficar um tempo comigo, espreitar minhas falhas, melhorar o que faço, de coração, sem esperar nada em troca, porque é o universo que se encarrega de devolver o que necessito.
E nao importa de onde venha!
Só é possível partilhar o que temos.
Por isso, preciso recarregar minha bateria,
Verificar o nível do óleo, troca do filtro etc. e tal.
Retornarei em excelente condição, pronta para mais alguns capítulos que, ainda, hei de viver ( e escrever).
P.S:  Haverá novidades, com certeza,
        Porque Deus é maravilhoso!

Faz de Conta

A imaginação é companheira inseparável da inocência
E transforma, ainda que por breve instante,
Tudo ao seu redor.
A infância das ausências
É vivida com alegria,
É vivida com sonhos latentes...
Um banco virá escada,
O braço de um sofá virá adega;
O jiló e uns palitos se transformam em mimoso bichinho,
Todo lençol é véu de uma noiva,
Qualquer parede vira tela para uma pequena artista.
A infância dos sonhos latentes
Está nua, brincando entre nós.
Não conseguimos
Vestir todos os sonhos...
Não conhecemos
Todos os sonhos...
O que fazer, então?
Ao nosso lado,
Há sonhos nus!
Se pudermos vestir
Um sonho possível,
O grão de areia, no deserto,
Irá rolar de alegria.
Vistamos, então, os sonhos possíveis.
Afinal, vida rima com poesia!

Ausência

Dentro de mim
Há  um oceano,
De água clara,
Em que você não tornará a banhar-se.
Dentro de mim
Há um coração,
Pleno de amor,
Que você não tornará a provar.
Por quê?
Porque um oceano,
Sempre precisará de mais água,
E seu copo está vazio.
Porque o amor
Que sobrevive,
Não dirá "presente"
Para quem murmurou:
"Ausente."

Sinais

A folha que balança
É a ponta da lança.
O sol que brilha
Norteia a trilha.
A formiga que passeia
É ação em cadeia.
O brilho no olhar
É luz do luar.
O pássaro que canta
É o som que me levanta.
E o barulho do mar...
Esse me diz:
"É tempo de amar!".

Encontro

Minha alma
Reconhece o amor
Em sua alma.
Não importa
Se buscamos outros corpos.
Minha alma
É amada, ainda que
As emoções me atravessem
O corpo
Na ausência de você.

quinta-feira, 14 de fevereiro de 2019

Duplo

Invisível 

Havia uma porta
De madeira maciça, sem verniz,
Coberta por fina camada de tinta cinza, de aspecto fosco,
Que não escondia as marcas do tempo.
Não havia fechadura ou qualquer entalhe por onde abri -la.
Nela, estava afixada uma máscara,
Feita, com certeza, de papel machè.
Parecia que o desenho da boca tinha letras.
Aproximei-me devagar, busquei meus óculos
E estiquei-me para alcançá-la.
Ela era bem pequena!
Tirei-a do gancho e ela encontrou
O aconchego de uma das minhas mãos.
Havia alguma coisa escrita com letras estilizadas
Mas podia -se ler, claramente, o que a máscara insinuava gritar:
Ternura.
Nunca soube se havia algo
Ou alguém atrás daquela porta.
O que eu fiz?
A máscara está, até hoje,
Ao lado da minha
Caixinha de música.
Que quando aberta, deixa-nos ver sua bailarina rodopiando,
Enquanto a máscara sorri, dizendo...
Ternura.

Rapsódia Juvenil

Rapsódia juvenil

Hoje, bem cedinho,
Caminhando e cantando;
Seguindo o projeto
De fazer a depressão
Não mais me encontrar,
Imaginei como seria se tivesse estudado no CEFET.
É,  isso mesmo!
Aos treze, queria estudar Química
Mas meu pai, que tudo sabia de mim
Pegou-me no colo e disse que eu seria Professora.
Amo essa profissão!
Ele acertou
E eu me realizo.
Transformo minha realidade a cada dia,
Como uma pintura que nunca termina.
Mas e o CEFET?
Bom, da imaginação delirante
Emerge a silhueta
Do meu primeiro amor,
Sublime, delicado, perene.
Éramos jovens amantes,
Sem permissão...
Agora, compreendo
Que guardo, com carinho,
A sombra daquele amor, amor pueril.
Saudade?
Sempre terei saudade
Do lado bom da vida,
Das boas histórias.
Dos encontros e desencontros...
O que fazer, então?
Fortalecer-me nas desventuras,
Não fugir à verdade,
Viver, intensamente,
O que, ainda, há para viver.
Sem medo, sem dúvida,
Saboreando, vagarosamente,
O que, ainda,  há de ser.

quarta-feira, 13 de fevereiro de 2019

Tecendo

Não importa em quantas terras passeou,
Quais planejamentos foram concluídos ou interrompidos.
Os objetivos, as metas, as estratégias
Não são os elementos que permanecem.
Eles são os fios utilizados
Para costurar nossas emoções, Construir nossas defesas...
A maneira como costuramos,
Os pontos escolhidos,
A distância entre eles...
Isso é o que permanece.
O que tecemos conta nossa história,  Revela o que aprendemos,
Os caminhos que pisamos
Ou ao tecermos,
Ignoramos, solenemente,
As experiências vividas?

terça-feira, 12 de fevereiro de 2019

Paráfrase

Preciso não dormir
Até poder viver
A história da gente

Preciso conduzir
A hora de calar
Te vendo se afastar, subitamente

Pretendo descobrir
Nas curvas do teu medo
Um desenho onipotente
Que rompe o mistério da partida
E que transborda todo segredo

Prometo te querer
Até a dor dizer
Presente, presente

Prefiro, então, partir
Levando o que foi bom
Calando o que quebrou, sem desistir

Depois de te perder
Tua transversal, com certeza, cruza a minha,
No ponto em que o olhar é o que nos      fala
E os desejos e delírios se reencontram

Eu sorrirei como criança
Sonhando e vivendo,
Amando e crescendo
E tu, se quiseres, me verás,
Ainda encantada,
Ao lado teu.

(Paráfrase da canção de Chico Buarque,  Todo o sentimento)

Incompletude


Sei que te amo,
Porque necessito do teu amor.
Sou feliz sem ele?
Sim, minha alma é feliz!
Mas viver é preencher lacunas,
Lacunas de desejos.
Tu completas um desses vazios.
Então,  rendo-me ao amor
Que sinto por ti.
Se eu posso viver sem teu amor?
Sim, claro!
Quisera que tu me amasses...
Não funciona assim.
Não se preenchem todas as lacunas.
E essa permanece vazia.
O que faço, então?
Meu coração se acalma
E minha alma se alegra,
Ao saber que és feliz.

segunda-feira, 21 de janeiro de 2019

Silêncio

         Nada sei sobre o que sentes.
       Sinto tuas quedas mas alegro-me porque sei que há tanta vida dentro de ti!
      Nada sei sobre o que sentes.
         No silêncio, procuro novos caminhos que cortem as montanhas que te parecem intransponíveis, para que eu possa, uma vez mais, ver-te chegar ao mar.
        Nada sei sobre o que sentes.
          Não é preciso que fales.
           Nada posso dizer-te!
Então, dou a ti o bem mais precioso:
O amor.


segunda-feira, 7 de janeiro de 2019

T

Vi sua imagem refletida na memória e quis guardá-la a sete chaves.
A primeira, escapou por entre meus dedos.
A segunda, frágil,  quebrou-se.
A terceira, desgastada pelo tempo, foi inútil.
A quarta, de tanto que tentei, perdeu a forma.
A quinta, caída no fogo, derreteu.
A sexta, brilhante e resistente,  alguém me furtou.
A sétima, de tão pequena, guardei-a na boca...
E sentindo o medo chegar, beijei sua imagem e tranquei-a.

Modos?

            O Pretérito?
       Conta uma história.
            O Subjuntivo?
       Por vezes necessário, não me satisfaz.
            O Presente?
      Vai construindo a memória.
                            O Futuro?
          Reencontro com o Pretérito.

sábado, 5 de janeiro de 2019

     Não faço oposição.
     As conjunções adversativas, não faço gosto em usá-las.
     Sou vulcão, tempestade e fresca brisa.
     E meu caminho é presente divino,
Trilhado à margem de qualquer questão.

quinta-feira, 3 de janeiro de 2019


Tempo

Não sei se o tempo rola, roda, passa, chega...
Suas marcas estão na superfície e no mais secreto esconderijo.
O ofício de restaurador não pode apagá-las.
Vejo-as ao espelho; sinto-as nas ausências.
 
Continuo na contramão,
Feliz na minha solidão,
Porque tenho o abraço que quero, quando quero e porque quero.
     Na ausência da sua voz havia tanta acidez que meu corpo adoeceu.
     Foi como se tivera bebido tantas e tantas taças de vinho barato, que meu riso desapareceu.