por Marta Caetetu - 29/09/2010 11h 53
Imagem: marxists.org
++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++
20/04/2010
A Professora Maria Isabel confirmou que recebeu do Departamento, confirmação de autorização do MEC para ser contratada pela UFF.
Enfim, uma ótima notícia.
A
teoria de Vygotsky – Capítulo 5
Capítulo V
A Teoria de Vygotsky
Paulo Ricardo da Silva Rosa Departamento de Física UFMS e-mail:
rosa@dfi.ufms.br A teoria de Vygotsky – Capítulo 5
Sugestão de atividade
Cada aluno deverá escrever, como trabalho
extraclasse, uma pequena monografia intitulada:
Qual a influência dos adultos na formação de
conceitos pela criança?
Antes de iniciar esta unidade sugiro que cada aluno
leia para o grupo a sua monografia e, após todos os alunos terem lido a sua
monografia, haja uma discussão em grande grupo das idéias apresentadas,
tentando definir os pontos comuns às várias monografias apresentadas.
Como critérios de avaliação das monografias sugiro:
• Correção lingüística;
• Organização das idéias;
• Embasamento teórico;
• Apresentação gráfica;
As monografias deverão ser escritas utilizando algum editor de texto.
Paulo Ricardo da Silva Rosa Departamento de Física UFMS e-mail:
rosa@dfi.ufms.br A teoria de Vygotsky – Capítulo 5
Introdução
Lev Semenovich Vygotsky nasceu em 1896 na cidade de Orsha, na Rússia, e
morreu em Moscou em 1934, com apenas 38 anos. Formou-se em Direito, História e
Filosofia nas Universidades de Moscou e A. L. Shanyavskii, respectivamente. Por
esses dados biográficos podemos perceber de início o pano de fundo que
influenciou decisivamente a sua formação e o seu trabalho: a revolução russa de
1917 e o período de solidificação que se sucede. Vygotsky é um marxista e tenta
desenvolver uma Psicologia com estas características.
Figura 1 - Lev Vgotsky.
A
esse respeito é necessário que se estabeleça de saída uma diferença fundamental
entre o trabalho de Vygotsky e o trabalho de outros teóricos da formação de
conceitos, como Piaget ou Ausubel: Vygotsky não deixou uma teoria acabada e
pronta. Muito mais apontou caminhos a serem seguidos por outros pesquisadores,
na forma de grandes linhas de pesquisa a serem desenvolvidas, do que
sistematizou um corpo de conhecimentos a respeito da mente humana.
Outro
ponto que também diferencia Vygotsky de outros teóricos, Piaget principalmente,
é a sua preocupação com as situações de aprendizagem em sala de aula, o que o
aproxima em certo sentido de Ausubel.
A
teoria de Vygotsky chega ao ocidente através de dois livros básicos: Pensamento e Linguagem e A Formação Social da Mente1 (respectivamente
Vygotsky 1993 e Vygotsky 1991). O primeiro tem a sua tradução feita do russo para o
inglês apenas em 1962 e o segundo em 1978. Ambos não são livros completos no
sentido de que são compilações de trabalhos esparsos, muitas vezes redundantes.
Devido
à doença de Vygotsky, que o levaria à morte com apenas 38 anos, o estilo nessas
obras é bastante sintético e muitas vezes há apenas um delineamento de idéias.
Dentro da própria União Soviética o trabalho de Vygotsky foi proibido por 20
anos. Daí para o Brasil se vão mais alguns anos e, portanto, somente na década
de 90 Vygotsky aparece como um teórico da aprendizagem influente na cena
educacional brasileira.
Qual
a razão da importância crescente de Vygotsky no Brasil? Uma hipótese que
podemos levantar é que Vygotsky fornece uma espécie de elo que faltava à teoria
piagetiana, que havia sido o principal referencial ao longo da década de 80,
com o meio social, vertente essa que, como já vimos, surge muito forte no
cenário educacional brasileiro com a Pedagogia
Crítica dos Conteúdos. Em
Vygotsky o Homem é um ser social formado dentro de um ambiente cultural
historicamente definido. Esse é o ponto fundamental da teoria de Vygotsky.
Vygotsky
é um psicólogo experimental. Esta é a característica básica de seu trabalho.
Todas as suas construções teóricas têm os experimentos como seu ponto de
partida. Nos textos no entanto, muitas vezes, os experimentos são apenas
apontados ou são de terceiros. Outra característica de Vygotsky é ser um
construtivista em oposição aos comportamentalistas do início do século XX,
embora já tenha sido apontado como neocomportamentalista.
Os
trabalhos de Vygotsky se desdobram em várias direções. Aqui, no entanto, nos
deteremos apenas naqueles aspectos que mais diretamente se ligam ao cotidiano
da sala de aula de Ciências.
1 Nos referiremos a estes dois livros por PL e FSM, respectivamente,
seguidos por um número que indicará a página onde se encontram as citações que
se seguirão. Nas citações que faremos, os termos ressaltados em negrito
correspondem a grifos do original.
Paulo Ricardo da Silva Rosa Departamento de Física UFMS e-mail:
rosa@dfi.ufms.br A teoria de Vygotsky – Capítulo 5
As relações entre Pensamento e Linguagem
Um
primeiro ponto abordado dentro dos trabalhos de Vygotsky foi a relação entre
pensamento e linguagem. No momento histórico em que Vygotsky aborda esse ponto,
a unicidade da consciência é vista pela Psicologia como um invariante. As formas
como as funções psíquicas se relacionam entre si não mudam e, por conseqüência,
podemos estudar cada um dos componentes da consciência de forma isolada. Esse é
o primeiro ponto onde Vygotsky se insurge contra as teorias vigentes no seu
tempo apontando para o fato de que as funções da mente não são invariantes e
mudam. Logo, há que se ressaltar o caráter de interdependência das funções
psíquicas.
Nos
estudos anteriores ao trabalho de Vygotsky, a posição teórica de que falamos
havia levado ao estudo da linguagem e do pensamento como processos
independentes e não relacionados. Como conseqüência dessa postura teórica duas
possibilidades se apresentavam quando do estudo do pensamento e da linguagem
pelos psicólogos: a primeira leva à fusão desses dois processos, pela sua
identificação, e pela segunda, os psicólogos eram levados a segregar os dois
processos em compartimentos estanques e não relacionados. Para Vygotsky, a
origem dos erros apontados acima está na metodologia utilizada nos trabalhos
anteriores, com ênfase na dissociação em elementos componentes.
Vygotsky vai de encontro a essa posição apontando que, sob o ponto de vista
metodológico, o correto é a análise em unidades:
Com o termo
unidade queremos nos referir a um produto de análise que, ao contrário dos
elementos, conserva todas as propriedades básicas do todo, não podendo ser
dividido sem que as perca. A chave para a compreensão das propriedades da água
são as suas moléculas e seu comportamento, e não seus elementos químicos. A
verdadeira unidade da análise biológica é a célula viva, que possui as
propriedades básicas do organismo vivo (PL 4).
Mas
qual seria a unidade básica do pensamento verbal? Esta unidade Vygotsky
encontra no significado da
palavra:
...Acreditamos
poder encontrá-la [a
unidade] no aspecto intrínseco da palavra, no significado da palavra.[...] é no
significado da palavra que o pensamento e a fala se unem em pensamento verbal.
É no significado então, que podemos encontrar as respostas às nossas questões
sobre a relação entre o pensamento e a fala (PL 4).
Logo,
a metodologia apropriada para o estudo das relações entre pensamento e
linguagem é a análise semântica. O significado serve como unidade para o estudo da
fala, ferramenta de intercâmbio social, no papel de ferramenta mediadora, bem
como para o estudo do pensamento generalizante, uma vez que cada palavra traz
em si uma parte de generalização:
As formas mais
elevadas da comunicação humana somente são possíveis porque o pensamento do
homem reflete uma realidade conceitualizada (PL 5).
Uma
primeira constatação de Vygotsky é que o pensamento e a linguagem, que para um
adulto parecem entidades idênticas, são, na verdade, dois processos
independentes, com curvas de desenvolvimento independentes, que convergem para
uma mesma trajetória em um dado momento. A base a partir da qual Vygotsky parte
para chegar a essa conclusão são estudos com primatas superiores, realizados
por vários antropólogos. Vygotsky resume os resultados obtidos com macacos
antropóides da seguinte forma (PL 36):
1. O pensamento e a fala têm raízes genéticas diferentes.
2. As duas funções se desenvolvem ao longo de trajetórias diferentes e
independentes.
3. Não há qualquer relação clara e constante entre elas.
Paulo Ricardo da Silva Rosa Departamento de Física UFMS e-mail:
rosa@dfi.ufms.br A teoria de Vygotsky – Capítulo 5
4. Os antropóides apresentam um intelecto um tanto parecido com o do homem,
em certos aspectos (o uso embrionário de instrumentos), e uma
linguagem bastante semelhante à do homem, em aspectos
totalmente diferentes (o aspecto fonético da sua fala, sua função de
descarga emocional, o início de uma função social).
5. A estreita correspondência entre o pensamento e a fala, característica
do homem, não existe nos antropóides.
6. Na filogenia do pensamento e da fala, pode-se distinguir claramente uma
fase pré-lingüística no desenvolvimento do pensamento e uma fase
pré-intelectual no desenvolvimento da fala.
As
características dos macacos antropóides indicam que para eles a fala está
ligada apenas a expressão de estados emocionais, faltando qualquer indício de
ideação ou representação interna. Outra característica do pensamento desses
animais é o fato de que a solução de um problema só é possível se todos os
elementos que comporão a solução deste problema estiverem no campo visual.
Ao
reproduzir o mesmo tipo de experimentos com crianças os resultados foram
semelhantes. As duas funções da fala (social e de comunicação de estados
emocionais) já podem ser observadas na criança no primeiro ano (fase afetiva -
conativa). Por volta dos dois anos o pensamento e a fala unem-se, dando origem
a uma nova forma de comportamento.
É
interessante observar que, para a criança em seus primeiros estágios, a palavra
não é um símbolo do objeto mas sim uma parte do mesmo. A palavra cadeira não
representa ou substitui na mente da criança o objeto cadeira, mas é parte do
mesmo. Somente mais tarde o caráter simbólico se desenvolve. Há primeiro uma
apropriação externa, utilitária, do signo e só após o desenvolvimento da
estrutura lógica associada. Isto é válido mesmo em idade escolar. Um resumo dos
resultados é o que segue (PL 38):
1. No seu desenvolvimento ontogenético, o pensamento e a fala têm raízes
diferentes.
2. Podemos, com certeza, estabelecer, no desenvolvimento da fala da
criança, um estágio pré-intelectual; e no desenvolvimento de seu pensamento, um
estágio pré-lingüístico.
3. A uma certa altura, essas linhas se encontram; conseqüentemente, o
pensamento torna-se verbal e a fala racional.
Como
indícios dessa junção entre pensamento e a fala em crianças podemos citar um
aumento repentino da curiosidade ativa e uma ampliação aos saltos do
vocabulário. Este é o ponto de partida da função simbólica que não acontece
abruptamente, como alguns contemporâneos de Vygotsky acreditavam, mas é um
processo gradual e longo.
Segundo
Vygotsky o desenvolvimento da fala comporta quatro estágios:
1. Natural ou primitivo - este é o estágio característico da fala
pré-intelectual.
2. Psicologia ingênua (correspondendo a uma Física ingênua) -
esta é a fase da inteligência prática (relacionada à manipulação de objetos).
Neste período temos a capacidade de manipular os termos: porque, quando, se, mas, etc. Porém, esse domínio é operacional, não havendo
ainda uma apropriação das funções lógicas (causais, temporais, condicionais, etc.) ligadas a
estes termos.
3. Operações externas - esta fase corresponde à fase egocêntrica
piagetiana.
4. Crescimento interior - nesta fase há um deslocamento para dentro da
fala, com o aparecimento, na sua etapa final, da fala interior.
Esta tem uma função completamente diferente da fala externa: a sua função é uma
função planificadora. Este é o ponto em que aparece o pensamento verbal. Este
processo é um processo sócio histórico por excelência:
Paulo Ricardo da Silva Rosa Departamento de Física UFMS e-mail:
rosa@dfi.ufms.br A teoria de Vygotsky – Capítulo 5
...A natureza do próprio desenvolvimento se
transforma, do biológico para o sócio - histórico. O pensamento verbal não é
uma forma de comportamento natural e inata, mas é determinado por um processo
histórico - cultural e tem propriedades e leis específicas que não podem ser
encontradas nas formas naturais de pensamento e fala (PL 43).
A formação dos
conceitos
O
problema da formação de conceitos é um dos problemas centrais da Psicologia e
um dos mais importantes para o ensino de Ciências. Vygotsky foi uma das pessoas
que mais influenciaram o desenvolvimento desse tema ao longo do século XX. Mas
o que é um conceito? Poderíamos dizer que um conceito é uma abstração que trás
em si os elementos essenciais de um conjunto de objetos concretos ou abstratos.
Normalmente essa abstração é representada, na nossa cultura verbal, por uma
palavra. Assim, por exemplo, a palavra carro denota um conjunto de objetos concretos que possuem
certas características comuns: são usados para o transporte de pessoas, têm
rodas, possuem faróis, etc. Deve-se observar que a palavra carro não é o
conceito, mas sim o seu signo.
Ao
tempo de Vygotsky duas abordagens do problema eram utilizadas. A primeira usava
a técnica de estudar a formação de conceitos solicitando aos sujeitos que
dessem a sua definição. O problema dessa técnica é que ao solicitar a definição
dos conceitos o pesquisador tinha acesso somente ao produto acabado, perdendo
desse modo todo processo de construção de conceitos.
A
segunda metodologia utilizada consistia em estudar o processo de abstração por
parte dos sujeitos pesquisados ao lidar com conjuntos de objetos ou situações.
Nesse caso, perdia-se o valor da definição verbal dos objetos. Em ambos os
casos ocorre uma perda de informação em relação ao processo complexo da
formação dos conceitos pelas crianças.
Insatisfeito
com estas metodologias, Vygotsky propõe o estudo experimental do processo de
formação de conceitos que utiliza a seguinte metodologia: são apresentados à
criança um conjunto de objetos de formas e cores diferentes. São 22 blocos de
madeira de cores diferentes (cinco), formas diferentes (seis), alturas e
larguras diferentes2. Na face voltada para baixo de cada objeto está uma
palavra, que, de fato, não existe na língua padrão, com o nome daquele objeto.
A Tabela 1 mostra o significado de cada uma das palavras utilizadas por
Vygotsky no estudo do processo de formação de conceitos.
Tabela 1 - Significado das palavras no estudo de formação de conceitos.
O
objetivo é verificar se a criança é capaz de descobrir o conceito representado
pela palavra: a atenção está toda nas condições funcionais da formação de
conceitos. A partir desse tipo de estudo, realizado com 300 sujeitos ao todo,
Vygotsky elabora uma taxionomia dos processos de formação de conceitos.
Palavra
|
Significado
|
lag
|
blocos altos e largos
|
bik
|
blocos baixos e largos
|
mur
|
blocos altos e estreitos
|
cev
|
blocos baixos e estreitos
|
Imagem: marxists.org
++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++
20/04/2010
A Professora Maria Isabel confirmou que recebeu do Departamento, confirmação de autorização do MEC para ser contratada pela UFF.
Enfim, uma ótima notícia.
Nenhum comentário:
Postar um comentário