via@Marta Caetetu

quinta-feira, 24 de março de 2016

Un fantôme politicien?




Nem isto, nem aquilo: é preciso paz de espírito e caminho político refletido


Passado algum à direita ou à esquerda, deve ser esquecido


Futebol é uma arte... Johan Cruyff, um artista a quem digo adeus

Debate político infantilizado ou... não há debate?

Do que não fomos


Classe política e apropriação da representação

Vejam que interessante é o caso da Praça Talkin e do Parque Gezi, em Istambul. Faz meses que estão protestando por causa da destruição do último parque no centro histórico da cidade, para quê? Para construir um shopping center com um complexo turístico dedicado aos turistas, negando aos jovens o espaço que podiam ter para relacionar-se com a natureza. Mas também para reunir-se, para existir como tal. Portanto, é a negação do direito básico à cidade, como disse Lefèvre, há muito tempo, ‘é o direito a poder reunir-se e ocupar um espaço sem ter que pagar, sem ter que consumir e sem ter que pedir licença à autoridade. Por isso, do espaço protegido de liberdade na internet, tenta-se extrapolar a lógica da liberdade na internet, à liberdade no espaço público urbano. E não posso opinar sobre um movimento que não conheço em São Paulo, este momento, mas tem algumas características de tentar manifestar que a cidade é dos cidadãos e esse é um elemento fundamental em todas as mobilizações que observei no mundo”. Manuel Castells

Pelo direito à divergência: (2012) revisitando um passado recente...

Demétrio Magnoli 
Nos idos de 2005 o cientista político Wanderley Guilherme dos Santos formulou o discurso adotado pelo PT em face do escândalo do mensalão. O noticiário, ensinou, constituiria uma tentativa de “golpe das elites” contra o “governo popular” de Lula. No ano passado o autor da tese assumiu a presidência da Casa de Rui Barbosa, cargo de confiança subordinado ao Ministério da Cultura. É nessa condição que, em entrevista ao jornal Valor (21/9), ele reativa sua linha de montagem de discursos “científicos” adaptados às conveniências do lulismo. Desta vez, para crismar o julgamento do mensalão como “julgamento de exceção” conduzido por uma Corte “pré-democrática”.A entrevista diz algo sobre o jornalismo do Valor. As perguntas não são indagações, no sentido preciso do termo, mas introduções propícias à exposição da tese do entrevistado – como se (oh, não, impossível!) jornalista e intelectual engajado preparassem o texto a quatro mãos. Mas a peça diz uma coisa mais importante sobre o tema do compromisso entre os intelectuais e o poder: o discurso científico sucumbe no pântano da fraude quando é rebaixado ao estatuto de ferramenta política de ocasião.Os ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) narraram uma história de apropriação criminosa de recursos públicos e de fabricação de empréstimos fraudulentos pela direção do PT, que se utilizou para tanto das prerrogativas de quem detém o poder de Estado. Wanderley Guilherme, contudo, transita em universo paralelo, circundando o tema da origem do dinheiro e repetindo a versão desmoralizada da defesa: “O que os ministros expuseram até agora é a intimidade do caixa 2 de campanhas eleitorais (...). Isso eles se recusam a discutir, como se o que eles estão julgando não fosse algo comum (...), como se fosse algum projeto maligno”.
Projeto de poder
Wanderley Guilherme não parece incomodado com a condenação dos operadores financeiros do esquema, mas interpreta os veredictos dos ministros contra os operadores políticos (ou seja, os dirigentes do PT) como frutos de um “desprezo aristocrático” pela “política profissional”. O dinheiro desviado serviu para construir uma coalizão governista destituída de um mínimo de consenso político, explicou a maioria do STF. O cientista político, porém, atribui o diagnóstico a uma natureza “pré-democrática” de juízes incapazes de compreender tanto os defeitos da legislação eleitoral brasileira quanto o funcionamento dos “sistemas de representação proporcional”, que “são governados por coalizões das mais variadas”.
O núcleo do argumento serviria para a defesa de todo e qualquer “mensalão”. Os acusados tucanos do “mensalão mineiro” e os acusados do DEM do “mensalão de Brasília” estão tão amparados quanto os petistas por uma concepção da “política profissional” que invoca a democracia para justificar a fraude do sistema de representação popular e qualifica como aristocráticos os esforços para separar a esfera pública da esfera privada. A teoria política da corrupção formulada pelo intelectual deve ser lida como um manifesto em defesa de privilégios de impunidade judicial do conjunto da elite política brasileira.
Mas, obviamente, o argumento perde a força persuasiva se for lido como o que, de fato, é. Para ocultar seu sentido, conferindo à obra uma coloração “progressista”, Wanderley Guilherme acrescenta-lhe uma camada de tinta fresca. A insurreição “aristocrática” do STF contra a “política democrática” derivaria da rejeição a uma novidade histórica: a irrupção da “política popular de mobilização”, representada pelo PT. A Corte Suprema estaria “reagindo à democracia em ação” por meio de um “julgamento de exceção”, um evento singular que “jamais vai acontecer de novo”.
É nesse ponto do raciocínio que a teoria política da corrupção se transforma na corrupção da teoria política. Uma regra inviolável do discurso científico, explicou Karl Popper, é a exigência de consistência interna. Um discurso só tem estatuto científico se estiver aberto a argumentos racionais contrários. Quando apela à profecia de que os tribunais não julgarão outros casos com base na jurisprudência estabelecida nos veredictos do mensalão, Wanderley Guilherme embrenha-se pela vereda da fraude científica. A sua hipótese sobre o futuro – que, logicamente, não pode ser confirmada ou falseada – impede a aplicação do teste de Popper.
Há duas leituras contrastantes, ambas coerentes, sobre o “mensalão do PT”. A primeira acusa o partido de agir “como os outros”, entregando-se às práticas convencionais da tradição patrimonial brasileira e levando-as a consequências extremas. O diagnóstico, uma “crítica pela esquerda”, interpreta o extenso arco de alianças organizado pelo lulismo como fonte de corrupção e atestado da falência da natureza transformadora do PT. A segunda acusa o partido de operar, sob o impulso de um projeto de poder autoritário, com a finalidade de quebrar os contrapesos parlamentares ao Executivo e se perpetuar no governo. A “crítica pela direita” distingue o “mensalão do PT” de outros casos de corrupção política, enfatizando o caráter centralizado e as metas de longo prazo do conjunto da operação.
Reflexo especular
A leitura corrompida de Wanderley Guilherme forma uma curiosa alternativa às duas interpretações. Seu núcleo é uma celebração da corrupção inerente à política patrimonial tradicional, que seria a “política profissional” nos “sistemas de representação proporcional”. Seu verniz aparente, por outro lado, é um elogio exclusivo da corrupção petista, que expressaria a “irrupção da política de mobilização popular” e a “democracia em ação”.
Na fronteira em que o pensamento acadêmico se conecta com a empulhação militante, o paradoxo pode até ser batizado como dialética. Contudo mais apropriado é reconhecê-lo como um reflexo especular da fotografia na qual Paulo Maluf e Lula da Silva reelaboram os significados dos termos “direita” e “esquerda”.
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[Demétrio Magnoli é sociólogo e doutor em Geografia Humana pela USP]

A filósofa Marcia Tiburi e o perfil fascista


 Afinal... Como conversar com um fascista?

Elisa Marconi e Francisco Bicudo
height=Autora de um número respeitável de livros – que tratam de meios de comunicação ao consumo de drogas, passando por discussões sobre ética e sobre o corpo –, a filósofa Marcia Tiburi tem vivido uma experiência inédita depois da publicação de sua obra mais recente. Como conversar com um fascista, livro lançado no final do ano passado pela editora Record, tem ajudado a alimentar os espíritos inquietos daqueles que estão inconformados com o autoritarismo que contamina nosso tecido social; simultaneamente, o livro também tem sido o disparador de reações violentíssimas contra a autora. “Sim, tem aparecido gente muito violenta, a me afrontar e ofender. Não é só comigo. Outros escritores também têm sofrido isso. Talvez seja a prova mesmo de que os fascistas do cotidiano estão aí, agindo”, ensina a filósofa.
Em Como conversar com um fascista, Marcia Tiburi procura traçar o perfil dos fascistas que desfilam pelas ruas e pelas redes sociais atualmente e convida – quase que de forma irresistível – àqueles que não querem compactuar com essa forma sectária de tratar e destratar o outro (qualquer que seja esse outro diverso) a partir para a disputa de ideias e projetos. Para ela, essa resistência se dá construindo estofo teórico e encarando o embate com os obtusos, porque essa seria a única forma “de não ser engolido, de não fazer coro, de impedir que o fascismo se consagre como única opção”.
A reportagem da Revista Giz conversou com a filósofa no último final de semana.

Oposição e fascismo

É tênue a linha que separa uma oposição, cujo objetivo é o poder, pelo poder, do fascismo.